quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Extensão



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Agosto, mês da dilatação,
Acabas exangue de cansaço
Preenchido por um arquipélago
De pequenos sentimentos
Que não chegam a unir-se num sono
Longo, repousado, como tu exigirias.

Acabo por partir para longe
Para ver se dentro de um avião
Conseguirei finalmente a paz,
Ou o deserto benigno que te prometera,
Sob palmeiras e frutos sumarentos.

Um sítio onde possa abrir um livro
Cheio de iluminuras, iluminar os Rostos,
Ver-te finalmente unificada, ó liquida
Extensão a cujo lado me quero estender
Esticando os últimos dias de Agosto

Enquanto o mundo corre cheio de suor e óleo
Lá fora, adensando as primeiras nuvens
Do nosso futuro, sussurrando as palavras
Que tanto deslizam pelas areias como pelas ondas
E unem os extremos inverosímeis desta vida

Onde parece que já só ao teu lado,
Numa cama levitando, sob uma superfície
Que ondule, que toque suavemente a pele,
Me poderei ainda, uma vez mais que seja,
Dilatar, realizar Agosto, esta sempre sonhada
Extensão.





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Foto: Pascal Renoux
Site: http://www.pascalrenoux.com/Nudes.html
Texto: voj porto agosto 2009

4 comentários:

.l disse...

Não consegui evitar comentar o post posterior a este apesar de publicado por outro colaborador do blog.

Quanto a este post, deixe-me que lhe diga, que o lugar para onde se parte nem sempre é a meta. Para mim, trabalho são livros e pessoas, e férias são livros e eu. Portanto na bagagem das férias vão pesadamente livros (sem iluminuras... que esses são os do estudo e do trabalho... os das férias são mais luminosos) enquanto o destino fica por conta de quem me leve e sabe que me entrega à chegada no mundo fértil das letras em que o deleite reside nas frases sublinhadas ainda que as manhãs se dediquem ao usufruto do mar.

Espero que tenha conseguido abrir o tal livro. Eu, estas férias abri e fechei 10, 4 dos quais hei-de abrir de novo, por valerem a pena, e ainda me falta fechar 1.

Votos de boas leituras e melhores escritas...

Vitor Oliveira Jorge disse...

Olá, obrigado pelo seu comentário!
Este post pretende ser o esbço de um poema, pelo que não procura definir nada...
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A fantasia das férias é algo de tão pessoal e íntimo, imprevisível... não conjuga bem com um grande carrego de livros (eu já fiz isso em tempos... agora levo poucos, e ainda ando a ver se lá compro mais, pois não posso ver uma livraria, sobretudo se tiver ar condicionado). O protector solar enche tudo de gordura, etc., é horrível...
Esse livro a que me refiro no tal esboço é impossível de abrir... mas também impossível de fechar... algo que nos toca muito já se está a abrr e a fechar há mito tempo em nós, e continuará... só não sabemos bem o que é... nem nunca saberemos. Mistério que nenhum banho de mar dissolve!
Um abraço.

Anónimo disse...

Nesta coisa de abrir e fechar livros....sou como a maioria, creio: abri muitos livros ao longo da vida que fechei ao virar da segunda página. Destes.. raros foram os que voltei a abrir e a ler até ao fim. Porque, de facto, existem apenas três ou quatro livros que li até ao fim e a que volto sempre numa revisitação compulsiva. Por vezes releio-os duas vezes por ano...são âncoras... não são livros que eu possa fechar. Estão sempre ali....à espera. Em círculos...volto a eles inevitavelmente. Quando tudo falha...eles estão ali.

.l disse...

Bem... esse livro que é sempre escrito e nem sempre lido, não é para ser aberto nem fechado, apenas folheado e, até nas páginas deixadas em branco, há histórias ocultas contadas.