quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A METRÓPOLE, FÁBRICA SOCIAL

A unipop e o teatro maria matos organizam em final de setembro um seminário de quatro dias para debater a cidade, intitulado A METRÓPOLE, FÁBRICA SOCIAL.



Posteriormente, entre Outubro e Novembro, organizamos um ciclo de sete debates intitulado A POLÍTICA PARA ALÉM DA POLÍTICA.



www.u-ni-pop.blogspot.com



****************************************************************************************



A METRÓPOLE, FÁBRICA SOCIAL



seminário para debater a cidade

de 28 de Setembro a 1 de Outubro

Teatro Maria Matos, sempre às 18h30



Entrada livre

Organização do Teatro Maria Matos e da UNIPOP





A cidade constitui-se metrópole a partir do momento em que uma série de equipamentos e edifícios ligados em rede transformam cada via de acesso num fluxo produtivo. Uma teia de ligações, configurada por sistemas de transportes públicos, pontes e vias rápidas, redes sem fios e circuitos de videovigilância, é diariamente activada pela circulação dos habitantes da metrópole, os quais percorrem os escritórios, as fábricas, as salas de espectáculo, as lojas, as escolas, os hospitais, os jardins e os centros comerciais em que se produz e reproduz a vida social. A metrópole assemelha-se então a uma fábrica social, lugar de mobilização cooperativa da força de trabalho, onde se encontram as matérias-primas, circulam as mercadorias e onde se pratica o consumo, alimentando os circuitos de uma economia global.

Esta natureza produtora da metrópole encontra eco em alguns debates. Quando governantes e urbanistas invocam a imagem da “cidade criativa”, em parte reconhecem a natureza produtora da vida espiritual metropolitana. E quando nos falam acerca da necessidade de criação de uma imagem de “marca” para uma cidade, de algum modo repetem o gesto empresarial de criação do logotipo, símbolo que se inscreve no produto e cuja compra permite consumir um certo estilo de vida. Entretanto, a metrópole enquanto fábrica social extravasa largamente o que pode ser contido por aquelas formulações. Veja-se o caso da “cidade criativa”, fórmula que tende a reduzir a produção metropolitana a uma dimensão elitista, reduzindo a metrópole dos produtores – que liga margem sul e margem norte, que engloba centros e periferias, que articula indústria, serviços e comércio – a uma pequena e mui nobre cidade de criadores, de acesso restrito a alguns grupos profissionais de índole artística, uma cidade preferencialmente localizada em novos bairros de charme que emergem no interior dos velhos bairros populares dos centros históricos.

A contra-corrente desta concepção emergente que transforma a fábrica metropolitana em cidade criativa, a primeira sessão deste seminário de quatro dias começará por debater o conceito de “cidade criativa”. Contando, para este efeito, com a participação de investigadores das ciências sociais que se têm dedicado aos estudos urbanos, perguntamos para que servem as “cidades criativas”?

No segundo dia, com a ajuda de quem trabalha a metrópole em planos tão diversos como as políticas de transporte e as representações cinematográficas, transitamos da cidade dos criadores à metrópole dos produtores.

Esta passagem permitirá que no terceiro dia analisemos o governo metropolitano, debruçando-nos nomeadamente sobre a sua implicação no trabalho de arquitectos e urbanistas chamados a debate. O seu traço livre constitui muitas vezes a face mais visível de práticas e discursos de «renovação urbana» apontados à requalificação de zonas degradadas e à valorização do espaço público, mas a arte e engenho de arquitectos e urbanistas também participa, de forma menos evidente, de estratégias dirigidas à administração de pessoas e bens.

Finalmente, no quarto dia, focaremos os conflitos que ocorrem na metrópole e que são habitualmente tratados de forma despolitizada e avulsa (as chamadas “questões locais”) ou enquanto questões do foro criminal (a invenção dos “bairros perigosos”). Neste debate em torno das lutas metropolitanas, à procura de velhas e novas ligações entre antagonismos diversos, contaremos com a participação de activistas envolvidos nas lutas pelos transportes públicos, membros de comissões de moradores, dinamizadores de associações culturais, etc.





28 SET | Para que Servem as “Cidades Criativas”?

debate com Pedro Costa e João Pedro Nunes



29 SET | Da Cidade dos Criadores à Metrópole dos

Produtores

debate com Tiago Baptista, Luís Vasconcelos e Renato Carmo



30 SET | O Governo Metropolitano

debate com Susana Durão, João Seixas e Tiago Saraiva



1 OUT | As Lutas Metropolitanas

debate com Chullage, João Branco e Eugénia Margarida








Breve apresentação dos participantes:



João Pedro Nunes é Investigador no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (ISCTE) e lecciona sociologia urbana no departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais, onde se formou e completou o doutoramento. Tem investigado o desenvolvimento urbano da periferia de Lisboa nas últimas décadas.



Pedro Costa é economista, formado no ISEG, e professor no Departamento de Economia do ISCTE. Tem trabalhado sobre questões do planeamento urbano e do desenvolvimento regional e local.



Luís Vasconcelos, antropólogo, tem levado a cabo investigação no campo das festas de música electrónica, com base no projecto de doutoramento intitulado Percepção e Modernidade. Alucinogénios no Portugal Contemporâneo. É investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS).



Tiago Baptista, historiador, tem diversos trabalhos sobre a história do cinema em Portugal. Trabalha como conservador do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Nacional - Museu do Cinema.



Renato Carmo é Investigador no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (ISCTE). Doutorou-se pelo ICS em Ciências Sociais com uma tese sobre os processos de urbanização dos meios rurais. Tem dedicado os seus estudos a temas como a desigualdade social e a marginalização territorial.



Tiago Saraiva é Investigador Auxiliar do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Doutorou-se pela Universidade Autónoma de Madrid em 2004 com uma tese em história das ciências sobre o papel dos laboratórios na construção da cidade moderna. Publicou recentemente, em co-autoria, Cidade & Cidadania (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2008).



João Seixas é Investigador Auxiliar do ICS. Doutorado em Geografia Urbana pela Universidade Autónoma de Barcelona e em Sociologia do Território e do Ambiente pelo ISCTE, tem desenvolvido as suas investigações em torno das dinâmicas contemporâneas de governação urbana, bem como das lógicas e perspectivas do desenvolvimento sócio-cultural das cidades.



Susana Durão é Investigadora Auxiliar do ICS. Doutorada em Antropologia pelo ISCTE (2006), tem desenvolvido pesquisa na área do policiamento, patrulha e proximidade em Portugal, tendo particular atenção ao trabalho desenvolvido pela Polícia de Segurança Pública.



Eugénia Margarida é membro da comissão de moradores do Bairro das Amendoeiras, em Chelas. Associação que em 2005 e 2006, desenvolveu uma interessante mobilização contra o aumento de rendas imposto pela Fundação D. Pedro IV e pela defesa do direito à habitação condigna.



João Branco é membro do grupo Massa Crítica. Com origem em São Francisco (EUA) e realizado actualmente em mais de 350 cidades de todo o mundo, a Massa Crítica propõe um passeio no meio da cidade feito em transportes não poluentes, encorajando assim outras formas de mobilidade urbana.



Chullage é músico de intervenção e membro da Khapaz, associação sediada na Arrentela e pólo dinamizador da cultura local e da participação cívica. Tanto a sua música, como a sua intervenção política reflectem os problemas sociais existentes nas periferias das grandes metrópoles: a pobreza, o desemprego e precariedade laboral, a criminalidade e a violência policial.







*******************************************************************



A POLÍTICA PARA ALÉM DA POLÍTICA

ciclo de sete debates da Unipop e do Maria Matos



DE 10 DE OUTUBRO A 24 DE NOVEMBRO. SEMPRE ÀS 18H30 DE TERÇA-FEIRA, NO BAR DO TEATRO MARIA MATOS.

Entrada livre





Política. Provavelmente, nas duas últimas décadas, não haverá palavra cuja crise tenha sido mais vezes anunciada. A simples enunciação do termo parece suscitar cansaço, fastio, ou na melhor das hipóteses um comentário irónico, céptico, cínico. E contudo não existe outro caminho que não o de voltar uma e outra vez a discutir política, a questão estando no que se entende por política.



Por isso dizemos que este ciclo de sete debates propõe levar a política para além da política e a fórmula sinaliza a vontade de extravasar os debates que predominam na agenda da política institucional, reunindo preferencialmente analistas políticos, ministros, jornalistas, deputados, técnicos de sondagens ou cientistas políticos.



Decorrendo ao fim das tardes de terça-feira, no bar do teatro maria matos, este ciclo trata então de construir um mapa de problemas, da ideia de representação à questão do populismo, passando pela política da plebe ou da multidão, do conceito de biopolítica às políticas de identidade e abordando a relação entre política e polícia.





debate n.º 1



13 de Outubro

POLÍTICA, RAZÃO E EMOÇÃO

Com Manuel Villaverde Cabral e Manuel Loff



A frequente utilização da ideia de populismo tem levado à sua banalização, a ponto de ser legítimo perguntar se nos tempos que correm populismo não é apenas a forma mais rápida de desautorizar projectos políticos de que se discorda. Simultaneamente assistimos a uma crescente tecnicização do debate político, definindo-se a política enquanto assunto de especialistas que deverá privilegiar um tratamento preferencialmente racional, de acordo com o qual uma qualquer relação entre política e emoção reveste um sentido patológico.





Autor de várias obras, de O Operariado nas Vésperas da República a Cidadania e Equidade Política em Portugal, Manuel Villaverde Cabral é investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa, sendo actualmente Vice-Reitor da Universidade de Lisboa. Manuel Loff é historiador, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e tem vários trabalhos na área da História. Publicou recentemente O Nosso Século é Fascista! - O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945).





debate n.º 2



20 de Outubro

POLÍTICAS DE IDENTIDADE

Com Miguel Vale de Almeida e Marcos Cardão



Nas últimas décadas, a palavra identidade tornou-se um conceito recorrente no debate político. A nível dos movimentos sociais tem sido frequentemente defendida a necessidade de construir identidades que, fundindo dimensões políticas e culturais, permitam a várias figuras subalternas – colonizados, camponeses, indígenas, negros, mulheres, gays – forjar um poder de resistência e transformação que reaja às políticas de identidade dominantes, baseadas no colonialismo, no racismo, no machismo ou na homofobia. Entretanto, este identitarismo estratégico tem sido igualmente criticado pelo facto de ser incapaz de trabalhar uma alternativa que coloque em causa a própria ideia de uma política baseada na noção de identidade, deixando assim por problematizar categorias como nação, género ou família.



Miguel Vale de Almeida é antropólogo e professor no ISCTE. É também activista em movimentos lgbt. Tem várias obras publicadas sobre corpo, “raça” e género. Publicou recentemente A Chave do Armário – Homossexualidade, Casamento e Família. Marcos Cardão é historiador e bolseiro da FCT. Realiza presentemente o seu doutoramento em História, no ISCTE, com uma tese intitulada “Fado Tropical: o Luso-Tropicalismo na Segunda Metade do Século XX".





debate n.º 3



27 de Outubro

A POLÍTICA ‘A PARTIR DE BAIXO’

Com Fátima Sá e Paula Godinho



Quando falamos de política tendemos a conceber uma actividade profissional que ocupa o quotidiano de executivos governamentais e representantes parlamentares. Entretanto sabemos que esta limitação destitui de politicidade a actividade dos que estão à margem daqueles círculos institucionais. Importa por isso recolocar a relação entre política e grupos menos privilegiados num plano de debate que não esteja subordinado aos critérios definidos no quadro daqueles círculos institucionais, critérios estes que tendem a ignorar o que se poderia entender como experiências plebeias da política, experiências que remetem para conceitos como "economia moral da multidão" ou "armas dos fracos" e ecoam a história de inúmeros casos de resistência quotidiana e rebeldia popular.


Fátima Sá é historiadora, professora no ISCTE. Tem trabalhado sobre história dos movimentos sociais, história da cultura popular e história conceptual. Entre outros, publicou Rebeldes e Insubmissos – Resistências Populares ao Liberalismo (1834-1844). Paula Godinho é antropóloga, leccionando na FCSH-UNL. Tem desenvolvido pesquisa, entre outros temas, em torno de movimentos sociais e contextos de fronteira. Publicou, entre outras obras, Memórias da Resistência Rural no Sul – Couço (1958-1962).







debate n.º 4



3 de Novembro

A CRISE DA REPRESENTAÇÃO

Com José Bragança de Miranda e Ricardo Noronha



De forma a dar conta da distância entre uma elite de representantes e o conjunto dos representados, é amiúde referido que vivemos em plena crise da representação. Assim, os debates em torno da abstenção ou dos votos em branco, ou a referência ao enfraquecimento dos poderes dos Estados nacionais no quadro da globalização, alimentam a ideia de uma crescente crise da representação. Paralelamente, a problemática da representação convoca um debate cujo alcance supera a actualidade político-institucional. No quadro da política, mas não só aqui, o ideal de representação parece pressupor a possibilidade de uma relação incorruptível entre quem representa e aquilo que é representado. De tal modo assim seria que, na relação estabelecida entre governante e governado, o sujeito primeiro reflectiria transparentemente o objecto representado. Contudo, se não estivermos seguros desta transparência, o debate da representação deverá começar por perguntar se a representação é sempre um lugar de crise e, por outro lado, questionar se é possível pensar em política e em democracia além da representação.



José Bragança de Miranda é professor de Ciências da Comunicação na FCSH-UNL e professor convidado na Universidade Lusófona. Entre outros, publicou Queda sem fim, Teoria da Cultura e mais recentemente Corpo e Imagem. Ricardo Noronha é historiador, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde realiza o seu doutoramento acerca da nacionalização da banca no pós-25 de Abril.







debate n.º 5



10 de Novembro

POLÍCIA E POLÍTICA

Com Manuel Deniz Silva e Tiago Pires Marques



Em vários países do século XX, a memória da polícia política remete necessariamente para os tempos da ditadura e sabemos que a crítica desses tempos cria uma oposição radical entre a ideia de polícia e a ideia de política. E hoje ainda, quando se trata de debater a relação entre política e polícia, é de um exercício físico e violento do poder de Estado que estamos muitas vezes a falar. Entretanto, polizei, policy, política, polícia, são palavras que percorrem um mesmo universo histórico, num quadro de continuidade e de ruptura que envolve a administração interna, a ordem pública, o direito, a estatística. Neste contexto, e partindo das aproximações de Michel Foucault e Jacques Rancière, esta sessão procura situar o debate político à luz de um mais amplo entendimento da relação entre polícia e política.



Manuel Deniz Silva é investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança, da FCSH-UNL. Realizou doutoramento em Paris sobre a História da Música em Portugal e trabalha actualmente sobre música e cinema. Tiago Pires Marques é historiador, investigador na Universidade de Paris I. A sua investigação tem incidido sobre a história do direito penal, do sistema prisional e da criminologia. Publicou, entre outros, Crime e Castigo no Liberalismo em Portugal.





debate n.º 6



17 de Novembro

A BIOPOLÍTICA

Com António Guerreiro e Nuno Nabais



Nos últimos anos, a biopolítica de Michel Foucault tornou-se um sugestivo lugar de debate. O recurso ao conceito parece anunciar que a discussão da política terá que decorrer num plano que extravasa largamente o domínio do institucional, alastrando-se a todas as esferas da vida, no momento em que emergem novas técnicas de governo da população. Entretanto, e a partir da obra de autores como Giorgio Agamben, Roberto Esposito ou Antonio Negri, a noção de biopolítica tem sido objecto de interpretações diversas, por vezes até contraditórias, nuns casos apresentando o conceito como "grito de alerta" contra o actual estado das coisas, noutros interpretando-o como gesto de abertura de novos campos de poder político.

António Guerreiro é crítico no jornal Expresso, tradutor e ensaísta. Tem trabalhado particularmente autores como Walter Benjamin e Giorgio Agamben. Nuno Nabais é professor de filosofia na Universidade de Lisboa e autor, entre outros, de A Metafísica do Trágico. Estudos sobre Nietzsche. É ainda coordenador da Fábrica de Braço de Prata.



debate n.º 7



24 de Novembro

DA CIÊNCIA POLÍTICA À FILOSOFIA

Com Bruno Peixe, Lisete Rodrigues e Eduardo Pellejero



Ao longo dos últimos anos, os cientistas políticos assumiram um lugar proeminente no comentário e na análise política. Assumindo frequentemente a figura do especialista e do perito, os seus comentários tendem a focar preferencialmente dinâmicas eleitorais e institucionais e, de forma visível em Portugal, a ciência política tem conhecido assinalável desenvolvimento académico, demarcando-se da História, da Antropologia ou da Economia Política. Entretanto, nos últimos anos também assistimos a uma recuperação da filosofia enquanto discurso que é condição da política – e vice-versa – e que em certos casos vem mesmo rejeitar a própria ideia de uma articulação entre ciência e política. Esta sessão procura debater o lugar do conhecimento e das ideias na vida política.

Bruno Peixe é investigador da NUMENA. Economista de formação, realiza mestrado em filosofia e tem-se interessado particularmente pela obra de Alain Badiou. Lisete Rodrigues é doutoranda em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde desenvolve uma tese acerca do pensamento político de Espinosa, Hannah Arendt e Alain Badiou. Eduardo Pellejero realiza actualmente pós-doutoramento em Filosofia, na FCT-UTL. Tem vários trabalhos publicados, nomeadamente acerca de Gilles Deleuze.

Fonte: assessoria de eventos do ICS, Lisboa.


Sem comentários: