Há na política uma contradição óbvia: ela tem a ver com o desejo, com a fantasia, com a utopia... e aí residem as diferenças de opção entre as pessoas... embora as pessoas e suas opções sejam tudo menos coisas autónomas e vogando no espaço... os desejos das pessoas são obviamente construídos por um sem número de factores incontroláveis por elas próprias. Mas é aqui, a isto, que se dirige a propaganda eleitoral, que hoje é um espectáculo mais ou menos sofisticado para captar o desejo das pessoas. As mais "cultas" têm opções mais firmes que radicam em experiências, crenças e convicções muito antigamente implantadas...
Mas a política é também, e sobretudo, na sua prática, a governação da polis, a administração corrente. E para isso é preciso estar dentro dos dossiers, e inserido(a) numa malha de interesses em jogo, conhecendo muito bem o terreno. Aqui o princípio de prazer e o princípio de realidade chocam-se, conflictuam.
Coisas bem intencionadas todos dizem: mas uns falam sobretudo do lado do desejo, e outros falam principalmente do lado da perícia instalada (ao nível geral ou local), incluindo a perícia de nos administrar os desejos, porque esta "gestão" também existe, querendo apresentar-se como a única que importa. E muitos eleitores, cansados, deprimidos na sua "libido política", podem optar por o que julgam ser "opções realistas", ou seja pela utopia de que a administração corrente (a melhoria das suas vidas, tão afectadas em geral) é que importa e o resto é "conversa"...
E estamos sempre neste jogo, nesta ambiguidade, nesta paisagem de sombras chinesas... que às vezes parece um jogo de miúdos e outras um negócio de "tubarões". Passa-nos tudo um bocado ao lado, e não pode (não devia) passar. Ao nível global, nacional, e local.
Questão de crença, no fundo... que transforma oliveiras sobre as quais aparecem nossas senhoras em cidades proliferantes de turismo... é bom para todos os que acreditam e para os que aproveitam. Ou seja, para todos, excepto uns tolos que ainda julgam que pensam diferente.
Bem aventurados os que começaram bem uma carreira neste jogo e chegarão aos topos de empresas bem pagas, e depois de reformas gratificantes: deles é e será o Reino do Dinheiro. E quem diga que acha mal até passa por invejoso.
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