Do livro fundamental "La Technique et le Temps. 3. Le Temps du Cinéma et la question du mal-être", Paris, Galilée, 2001 (os dois anteriores volumes - desta série de 4 que o autor promete - estão esgotados já em francês, podendo adquirir-se a versão inglesa). Trata-se de uma obra de grande ambição, que se pode ler, como o autor adverte no início, mesmo antes dos vols. 1 e 2, e que se baseia numa reflexão sobre a Crítica da Razão Pura de Kant, que o autor confessa ter levado anos para inteiramente compreender:
p. 34 (tradução minha):
"(...) a singularidade da técnica de registo cinematográfico resulta de uma conjugação de duas coincidências:
- por um lado, a coincidência fotofonográfica entre passado e realidade - "há uma dupla posição conjunta: de realidade e de passado". que induz este "efeito de real", quer dizer, de crença, em que o espectacular é instalado a priori pela própria técnica;
- por outro, a coincidência entre fluxo do filme e fluxo da consciência do espectador deste mesmo filme, que, pelo jogo criado entre poses fotográficas, ligadas entre si pelo fluxo fonográfico, despoleta o mecanismo de adopção completa do tempo do filme pelo tempo da consciência do espectador, a qual, sendo ela própria um fluxo, é captada e "canalizada" pelo fluxo das imagens. Este movimento, investido pelo desejo de histórias que habita todo e qualquer espectador, liberta os movimentos de consciência típicos da emoção
cinamatográfica. "
Brilhante!
Sem comentários:
Enviar um comentário