segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cecilia Bartoli - Casta Diva: a opinião de SOJ


Nas últimas semanas tenho ouvido repetidamente Cecilia Bartolia a cantar Casta Diva ...do seu último cd . No carro, enquanto rolo. Mas tb em casa.. e onde calha.
A única versão da Casta Diva que me tinha interessado antes era a da Callas. Muita gente concordará com a “excelência” da Casta Diva de Maria Callas.
Para mim, porque M.C. consegue, na versão que conheço, e que é a mais considerada também, a conjugação duma brilhante voz ...“puxada à frente”.... com uma rigorosa performance de tragédia melancólica.
Maria Callas continua ainda a ser, para mim, neste caso, a Casta Diva que prefiro.

Mas Cecilia Bartoli ousa aqui transformar um clássico ...numa outra coisa. Sobre esta interpretação já ouvi, de gente entendida, e que eu até considero, muita coisa: que C.B. não tem voz para a Casta Diva; que C.B. se refugia numa interpretação sussurrada...à defesa, que não se aguentaria em palco; que C.B. não é uma Casta Diva!
Admito que não seja... e que as pessoas que são especialistas nestas matérias tenham fortes argumentos para dizer duas coisas:
que existem personagens do canto... e da ópera... que devem estar “atadas” inevitavelmente a certos padrões técnicos-interpretativos ; que C.B. não respeita esses padrões e, assim , põe em causa a matriz interpretativa duma “verdadeira” Casta Diva.

Quando ouço a primeira frase de C.B. a cantar Casta Diva sei que estou perante uma abordagem absolutamente diferente de tudo o que ouvi até hoje.
Para mim, extraordinariamente apelativa. Porque suspende o tempo. Mais do que sussurrada..a frase é quase falada...com uma sustentação técnica brilhante. O resultado é uma frase terrivelmente simples... E toda a área é uma notável proeza de simplicidade, sendo óbvio que simplicidade aqui corresponde a uma grande complexidade de estrutura, de fraseado, de som e silêncio. Sendo óbvio também , para mim, que esta abordagem é uma escolha interpretativa de C.B...,não por qualquer incapacidade técnica que a impedisse de cantar uma Casta Diva “como deve ser”..., mas por uma clara opção estética da cantora...que , como qualquer opção, é discutível. Opção que, de facto, altera a “verdadeira” Casta Diva. E esta Casta Diva de Bartoli , na sua específica interioridade, goste-se ou não, abre campo a uma nova identidade da personagem. Só os grandes intérpretes ousam tentar refazer identidades...e expor-se à controvérsia!
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Susana Oliveira Jorge

Fonte da foto:
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6 comentários:

Gonçalo Leite Velho disse...

Ainda há pouco tempo a Cecília Bartoli deu uma entrevista à 2 onde ela falava justamente dessa interpretação e da sua escolha interpretativa. Ela estudou (como sempre o faz) e procurou algo que não se limitava ao que é aceite (aquilo que designaríamos como comum, no sentido mais profundo da palavra).
Nessa mesma entrevista ela falava desta sua nova digressão, onde vai passar por Lisboa (9 de Fevereiro). Fui logo ao site do promotor dos espectáculos para comprar um bilhete. Azar: já está esgotado!!! :(

Anónimo disse...

3 comentários:
1.º: como diria o Homer Simpson, "Doh!" (isto foi o que eu disse quando vi o comentário do Gonçalo quando referia k já não havia bilhetes).
2.º: também ouvi a entrevista (acho k ainda é possível ouvir se forem ao site da Antena 2, onde vou quase todos os dias e que muitas vezes me acompanha durante a labuta!)
3.º: tenho esse cd desde Domingo e tb já ouvi umas 3 vezes, e especialmente a Casta Diva (que aliás se ouve nessa entrevista da Antena 2). Desconheço a versão da Callas, mas gosto da versão Bartoli, embora reconheça que a senhora não se consegue livrar do mesmo estilo de sempre. Mas não é isso que faz com que gostemos ou não das vozes que cantam?

Já agora, sugiro, num registo totalmente diferente, Nouvelle Vague e Laura Veirs (vieram juntas com a C.B.).

Beijo

Eliana

Anónimo disse...

O que me faz gostar de determinado artista, seja em que campo for, desde o bailado à pintura, é a forma como expressa o sentimento. Se ele o exprimir com ímpeto capta a minha atenção, senão esqueço.
Se tiver que escolher entre Cecilia e Callas escolho a primeira pois sinto nela uma energia que a outra não tinha ou escondia. Não sou uma entendida na matéria mas o bom da arte é que não é preciso ser.

Anónimo disse...

Sem dúvida: quando a alma sai cá pra fora, nada mais tenho a declarar! E a C.B. revela isso sempre que canta, é inquestionável. Só um cego é que não vê!
Não quis dar a entender que não gostava do estilo dela; apenas que estou sempre na espectativa quando sai algo de novo...a Renée Fleming, por exemplo, ou a Anne Sofie von Otter, têm coisas gravadas completamente diferentes dos trabalhos anteriores, mas saiem sempre bem. A C.B., que também se revela sempre exímia nos seus trabalhos, é que, independentemente do tipo de canção, tem sempre os mesmos tiques, as mesmas expressões, agarra-se smepre às mesmas muletas. Faço-me entender?
But just for the record...eu gosto muito da senhora :)

Eliana

Anónimo disse...

Olá Gonçalo!

Que dizia Cecilia Bartoli da sua Casta Diva?

Gonçalo Leite Velho disse...

Olá Susana

Como eu dizia no comentário anterior, ela falava da sua interpretação, justificando a sua escolha. Ela estudou a interpretação da Maria Malibran, bem como as composições de Bellini. O que é hoje é a norma (e a Norma) não é o original. Aliás consta que existiram pelo menos 6 versões diferentes compostas por Bellini.
Esta interpretação procura conjugar os dotes da Bartolli, fazendo jus ao modo como a Malibran interpretou esta ária.