sábado, 27 de outubro de 2007

variação sobre texto 2 de j. v.

Foto: Eric Pritchard
Fonte: http://www.eapfoto.com


os teus pés brancos, macios, jovens,
tocam pela primeira vez
as pedras cinzento-escuras
destes templos tão antigos: é
esse contraste que esclarece!

as unhas dos teus pés brilham
nesta escuridão.
em cada uma delas está escrito
um sinal da pedra que tocas.
cada um deles reluz, transporta!

é um labirinto; as raízes sobem aqui
acima dos salões desertos;
o tempo trepou por elas acima
e parou lá muito no alto.
mas cada coluna de luz desce em ti.

os teus pés puros passaram o regato
e têm a mesma resina dos séculos
aqui acumulados, o verde brilhante
dos címbalos, a intenção dos tectos;
daí estas percussões intermináveis!

a tua cintura, o teu umbigo, são o solo
de onde nascem as árvores férteis
que dão a volta ao templo, e espalham
uma luz verde, muito suave, que desce;
os teus pés desenham a harmonia.

a tua cintura é uma raiz de árvore
que te une pelo verde ao solo que pisas.
não receies aqui erguer o teu canto
macio, jovem; joga todos os brilhos,
revira os tornozelos lentos, com segurança.

a poeira do tempo anima os tambores
mas estes são serenos como flautas, tocam
para o interior da floresta, tal como os teus pés
brilham na tranquilidade dos seus sinais.
o elefante repousa a tromba nos teus dedos.

atravessaram o rio; escutaram as tablas;
estão prontos para o violino, para o som
que te dará volta ao pescoço, que te pintará
com os sinais que brilham sobre o tempo,
nas unhas, na testa, como cantos de pássaros!

cada movimento teu cria vácuo, abre caminho
sobre estas pedras, entre este verde,
nesta profusão de raízes e de movimentos
lentos de dança; ele está no tremor do teu umbigo.
e todos os instrumentos, cada um da sua vez.

estende os braços nesta escuridão

que o teu próprio movimento esclarece;
dos frisos as figuras entrelaçadas virão,
e uma grande multidão de flautas
entrará contigo, ó abençoada, nas clareiras.

não temas a densidade do verde, nem
a aparente sufocação do tempo; as aves coloridas
abrirão caminhos para ti, e eu trarei comigo
os elefantes que se hão-de deitar aqui
inebriados pela juventude dos teus pés.

tu apareces apenas como acontecimento
no meio desta profusão antiga
com o brilho do pano fino sobre a bandeja,
com os sinais que as tuas unhas iluminam
ó pura, sagrada, dançarina do templo antigo!

bemvinda sejas aos portais do êxtase,
às ruínas onde as raizes do mundo permanecem,
ungida, trémula na tua segurança, na nudez
da dança, no ardor das plantas dos pés,
com a cor branca sobre estas rugosidades.

uma palavra tua, uma só palavra,
e a música não mais parará, o movimento
do mundo entrará nas nossas narinas
até ao firmamento do cérebro, ao fundo das taças,
às palmas das árvores, ao sagrado coração do verde.

voj 2007

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