quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Restauro Urbano Integrado- curso livre na FLUP


Restauro Urbano Integrado
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 13 e 14 de Março de 2008

Apesar de serem cada vez mais frequentes em Portugal os congressos, as conferências e a formação pós-graduada sobre o tema da reabilitação urbana, continuamos a constatar erros e falhanços aparentemente incompreensíveis em numerosas intervenções recentes realizadas nos nossos centros históricos. O problema começa logo com a metodologia de análise. É sabido que muitos dos Planos de Pormenor de Centros Históricos são geralmente elaborados por equipas onde nem sequer se incluem especialistas em História do Urbanismo e em Conservação Integrada, tendo como resultado planos pouco (ou mal) fundamentados. Ora, não se conhecendo em detalhe todas as causas históricas de abandono e degradação, rua a rua, não se podem esperar propostas de intervenção bem sucedidas. Não se conhecendo o efectivo valor dos centros históricos como conjuntos e a importância da sua arquitectura de carácter vernacular, não se podem esperar propostas de intervenção com critérios adequados. Não havendo capacidade
de previsão, baseada nas leis do urbanismo orgânico e na antropologia do espaço, o índice de insucesso nas intervenções acaba por ser forçosamente muito elevado, com óbvios prejuízos a todos os níveis: sociais, económicos, ambientais, culturais, etc.
Mais do que reabilitar os edifícios, mais do que intervir avulso em quarteirões e em espaços públicos, é sobretudo necessário recriar e restaurar a lógica dos núcleos urbanos antigos, dentro de um espírito que ainda mal foi experimentado em Portugal, mas que já há alguns anos foi sendo defendido nos International Courses on Integrated Territorial & Urban Conservation, organizados pelo ICCROM.
Hoje, torna-se evidente que a questão dos centros históricos não é um mero problema de arquitectura ou de planeamento urbano. Várias áreas do saber são cada vez mais chamadas a contribuir para o estudo dos centros históricos e para as subsequentes estratégias de intervenção e de conservação: a História da Arte, a Antropologia, a Arqueologia Urbana, a Sociologia Urbana, o Turismo, a Mobilidade e a Engenharia de Transportes, a Geografia Urbana, a Conservação e Restauro, a Museologia, a Economia, a Engenharia Civil, a Arquitectura Paisagista, o Design Urbano, a Gestão de Património, o Direito, etc. Ainda assim, o Restauro Urbano Integrado não constitui um mero somatório de saberes. Trata-se de uma área interdisciplinar recente e com fronteiras ainda mal definidas.
Neste curso livre de Restauro Urbano Integrado apresentar-se-á um conjunto de novas metodologias de análise e de novas estratégias de intervenção, tendo como base uma análise crítica sobre os últimos trinta anos de reabilitação urbana em Portugal.
Ainda que em versão resumida, este será o primeiro curso em Portugal única e exclusivamente dedicado à CONSERVAÇÃO URBANA E TERRITORIAL INTEGRADA e às questões interdisciplinares mais relevantes ligadas ao restauro e à conservação sustentável de núcleos históricos entendidos como conjuntos, indo muito para além da arquitectura e do urbanismo.

Mais informações em:
http://franciscoeanamargarida.planetaclix.pt/cursoresturb.htm

3 comentários:

José Manuel disse...

Um tema muito interessante mas este preâmbulo é um pouco "wishful thinking". A partir do momento em que não existem políticas públicas de reabilitaação urbana e se pretende deixar isso à intervenção do mercado, todos estes pressupostos e preocupações caem pela base. Basta ver como foram estruturadas as recém-criadas Sociedades de Reabilitação Urbana e o seu modo de actuação. A do Porto está a funcionar na prática como um "braço armado" (tem a possibilidade de fazer expropriações sumárias) ao serviço de grandes consórcios imobiliário-financeiros. Trata-se no fundo de substituír uma população consolidada por outra população com outro perfil sócio-económico. Nem que para isso tenham que ser desalojados dos espaços onde habitaram há várias gerações.

O fundo das questões em reabilitação urbana é essencialmente político.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Não terá sido sempre?... são grandes interesses em jogo, em toda a parte, neste domínio.
E na política todos falam sempre do interesse colectivo, etc. mas os discursos são inevitavelmente - qualquer um o sabe - formas de encaminhar a "realidade" neste ou naquele sentido, conforme os grupos em disputa pelo "espaço público" e sua hegemonia.

newzeeland disse...

Concordo com o ponto de vista de que os consórcios imobiliário financeiros têm a possibilidade de investir na Baixa e poderão faze-lo de modo descuidado se negligenciados aspectos importantes como os de carácter social.

Falando no Porto e porque a ordem do dia é o centro histórico, pode-se constatar que os problemas são de varias ordens:

Degradação na ruas do núcleo e sub aproveitamento da sua potencialidade turística , hoteleira e comercial ;
Deficientes condições de habitabilidade em ruas de origem medieval e de acesso condicionado e consequente ocupação quase exclusiva de comércio e serviços de subsistência para os seus moradores .
Tratando-se de uma zona degradada e conotada com marginalidade é simplesmente compreensível a fraca receptividade do cidadão cosmopolita, contemporâneo seja ele Português da área metropolitana ou estrangeiro a pensar residir no centro histórico se por lá não houver motivo para fixação

Eu pessoalmente tenho dificuldade de promover o local onde moro se não privilegiar os aspectos de carácter cultural e afectivos.

a Faculdade onde neste momento frequento o terceiro ano do curso de arquitectura . no meu entender muito importante pelo facto de mobilizar muita gente ...muita gente ,de vários sectores socio-económicos ,culturais e diversas nacionalidades. (Bolonha neste caso poderá ser um dinamizador do Programa Erasmus )e por tal
Acredito que seria muito importante criar postos de emprego no centro do Porto , melhorar as condições de habitabilidade não só mas também para uma ocupação esporádica sejam ateliers e alojamento para estudantes ou hostels para backpackers .

Resumindo e concluindo gostaria apenas que os interesse comuns do bem estar geral convergissem uma vez para o entendimento Pacifico.

Quando não houver acordo deve-se voltar a dialogar, se não voltar a haver acordo talvez seja melhor ambas as partes cederem em algo nas suas pretensões...