Há muito tempo que andava para ler este e outros livros do Baudrillard que ainda não conhecia. Tive a sorte de o encontrar na Fnac do Colombo (é sempre agora à secção de filosofia que vou em primeiro lugar; vejo livro a livro, selecciono uns 5 ou 6, e depois o "realismo" leva-me a abandonar uns quantos e a trazer só os que me são "imprescindíveis", pelo menos para a minha saúde mental naquele momento, ou seja, que tocam precisamente naqueles temas que, julgo, desde novo persigo - mas em muitos casos só agora o sei).
Há um princípio básico para mim: tudo tem a ver com tudo. Não é pelos títulos, nem pelos autores, nem mesmo pelas informações das badanas que vou. É por cruzamentos de informação, conselhos que colho, e por leituras que faço nas próprias livrarias, o que exige algum tempo. Dantes comprava livros que hoje estão mortos (por várias razões) e deixava de lado ou não lia livros que agora tento procurar nos meus arrumos... a nossa relação com os livros é muito interessante e complexa. Mas querer preparar uma aula, uma cadeira, uma comunicação, um paper (agora falamos todos "inglês") com base em temas, é uma doença adolescente. Os "temas" importantes (que fazem um "clic" em nós) estão onde menos se espera, nos autores mais díspares, sendo o próprio símbolo do que normalmente não interessa o manual (às vezes tornado um clássico) que "trata" o tema, bem arrumadinho por gavetas (por isso o ensino secundário nunca me atraiu - há uma certa tendência para o professor comum - não falo do excepcional - ter mesmo de se ater a uma certa "matéria"). Há que tê-lo, consultá-lo, e fugir dele: o manual não só cadaveriza os assuntos, fatiando o cadáver em pedaços, como impede definitivamente de os compreender, se não sairmos dele; também não estou nada certo de que um aluno do 1º ano deva começar por manuais, apenas... enfim, são temáticas muito amplas).
Vamos ao livro. Título e sub-título, etc:
"Le Miroir de la Production ou L' Illusion Critique du Matérialisme Historique", Paris, Éd. Galilée, 1985.
Na obra do autor, este livro vem a seguir aos que produziu sobre "o sistema dos objectos" (1968), a sociedade de consumo (1970) e "Para Uma Crítica da Economia Política do Signo" (1972).
Há um princípio básico para mim: tudo tem a ver com tudo. Não é pelos títulos, nem pelos autores, nem mesmo pelas informações das badanas que vou. É por cruzamentos de informação, conselhos que colho, e por leituras que faço nas próprias livrarias, o que exige algum tempo. Dantes comprava livros que hoje estão mortos (por várias razões) e deixava de lado ou não lia livros que agora tento procurar nos meus arrumos... a nossa relação com os livros é muito interessante e complexa. Mas querer preparar uma aula, uma cadeira, uma comunicação, um paper (agora falamos todos "inglês") com base em temas, é uma doença adolescente. Os "temas" importantes (que fazem um "clic" em nós) estão onde menos se espera, nos autores mais díspares, sendo o próprio símbolo do que normalmente não interessa o manual (às vezes tornado um clássico) que "trata" o tema, bem arrumadinho por gavetas (por isso o ensino secundário nunca me atraiu - há uma certa tendência para o professor comum - não falo do excepcional - ter mesmo de se ater a uma certa "matéria"). Há que tê-lo, consultá-lo, e fugir dele: o manual não só cadaveriza os assuntos, fatiando o cadáver em pedaços, como impede definitivamente de os compreender, se não sairmos dele; também não estou nada certo de que um aluno do 1º ano deva começar por manuais, apenas... enfim, são temáticas muito amplas).
Vamos ao livro. Título e sub-título, etc:
"Le Miroir de la Production ou L' Illusion Critique du Matérialisme Historique", Paris, Éd. Galilée, 1985.
Na obra do autor, este livro vem a seguir aos que produziu sobre "o sistema dos objectos" (1968), a sociedade de consumo (1970) e "Para Uma Crítica da Economia Política do Signo" (1972).
O livro é uma análise crítica do marxismo, sobretudo quando este tentou aplicar-se às sociedades ditas pré-capitalistas e em particular "primitivas". O autor mostra como, querendo fazer uma superação teórica do capitalismo, o marxismo de facto até certo ponto o prolongou e reforçou, ao manter a centralidade da idea de trabalho e de produção em todas as sociedades, mesmo "primitivas". O "espelho da produção" alude precisamente a esse carácter fetichista de tão pretensos universais. O trabalho e a produção são uma invenção do próprio capitalismo. Ao universalizá-los, estamos a frustrar o nosso intento de ver para além dele, estamos a universalizá-lo. É o que têm feito a maior parte dos antropólogos e arqueólogos. Um aspecto erm que este livro está sem dúvida "datado" é no facto de, por sua vez, parecer cair noutro universal, no nosso fetiche por excelência, que é o do "primitivo". Mas temos de nos lembrar de que a obra data inicialmente de 1973, o que só mostra que Baudrillard foi um notável visionário, porque o livro se lê com um proveito e um prazer totais. Todos os que se dedicam à chamada pré-história deveriam lê-lo.
4 comentários:
Sobre o uso do manual...
Os alunos do primeiro ano chegam habituados à ditadura do manual e do professor. Poucos são os que estão habituados a deambular por leituras várias construídas segundo um gosto individual.
Olham para o próprio professor como se de um manual se tratasse. O pedido é simples:
- abra a boca e ensine-nos lá o que devemos aprender.
Foi talvez das coisas que me parece melhor nas ideias de Bolonha: a ênfase do aprender, mais do que do ensinar. Mas a tarefa de aprender ainda não foi apreendida pelos alunos. Ainda hoje um colega me dizia: até aos 20 anos o que interessa é curtir (o que explica como as Faculdades se tornaram objecto de principal patrocínio das cervejeiras). Depois com mais maturidade lá começam a surgir alguns que querem mesmo aprender. A minha experiência com os alunos que entraram pelo programa "Maiores de 23", bem como dos CET, mostra que realmente poder trabalhar com pessoas com mais maturidade é completamente diferente.
Será que o prolongamento da adolescência, favorecido pelo Ensino Secundário actual, serve os interesses de alguém?
O clima da festa sabemos bem a quem ajuda. Desde que na entrada da FLUP me deparei com uma lata de cerveja gigante ... está tudo tido.
Efectivamente a questão do trabalho é um tema central do marxismo e talvez mesmo "O Tema".
Há mesmo um texto clássico de Engels, de 1876, que tem o sintomático título "o papel do trabalho na transformação do macaco em homem". Um artigo fortemente influenciado por Lewis Morgan.
ver: http://www.marxists.org/portugues/marx/1876/otrabalhonatransformacaodomacacoemhome.htm
A problemática do trabalho é radicalmente diferente nas sociedades pré-históricas (ou mesmo incompreensível) mas dificilmente se poderá dizer que aparece apenas com o Capitalismo. A sociedade capitalista surge basicamente no Ocidente, no século XVIII. No entanto esta problemática é central pelo menos desde as primeiras sociedades proto-estatais. Aparece de forma bem evidente na velha maldição biblica (no Genesis) "Comerás o teu Pão com o suor do teu rosto".
Sobre o trabalho veja-se a questão da influência de Calvino no pensamento protestante, citado nomeadamente por Weber no clássico "A Ética protestante....
Já agora um apontamento sobre as sociedades pré-históricas. Conhecem a origem do termo pré-história? Aconselharia o trabalho do Glyn Daniel, mas tem um problema fundamental que é o de não aprofundar a origem francesa do termo, privilegiando a visão anglo-saxónica.
Sinceramente estou farto da mente pré-histórica, primitiva e demais epítetos. Se fosse a escolher algum ficaria próximo daquele que deu nome ao Departamento na Universidade Autónoma de Barcelona: Sociedades pré-capitalistas.
Mas preferia mesmo sociedades não-capitalistas (ou seja comunidades não-modernas-ocidentais, etc).
Sobre os manuais....
Tentem ensinar uma criança pequena sem um manual e irão compreender que o manual é essencial para o desenvolvimento do pensamento. Se criamos incertezas nas crianças pequenas elas tornar-se-ão adultos instáveis e com pouca capacidade de crítica pois ao longo da sua vida fui tudo o que tiveram. No entanto se primeiro oferecermos o manual e com tempo o questionarmos teremos adultos conscientes de si próprios.
A culpa não está no manual, está na família.
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