A relação ensino - investigação - administração devia ser assim:
- Para os docentes mais novos (?) predomínio da investigação e da administração.
- Para os docentes na fase cronológica média da sua carreira (após o doutoramento, digamos) algum equilíbrio entre as três componentes, com predomínio para o ensino (nomeadamente pós-graduado) e investigação.
- Para os docentes seniores (catedráticos ou equivalentes em curriculum), predomínio da investigação e exclusividade do ensino pós-graduado.
A sobrecarga administrativa e burocrática, que não está, em geral, na vocação do autêntico investigador/professor, é muito pesada porque a "máquina" não tem dinheiro para pagar a funcionários competentes em número suficiente que tratem da burocracia e da gestão corrente. Descarrega assim essas tarefas para cima de pessoas que podiam produzir mais-valias enormes para o país, dado ser suposto representarem as suas maiores competências científicas.
Esta irracionalidade na gestão de recursos paga-se cara: paga-se em atraso e em subserviência ao conhecimento produzido lá fora.
Esta não é uma perspectiva derrotista: tem-se aprendido e melhorado muito. Mas as assimetrias (entre os domínios privilegiados de investigação e os outros) estão a crescer dentro do sistema. Este não se renova em muitos campos, injectando "sangue jovem" na máquina; e muitas pessoas de valor chegam ao fim de uma licenciatura curta, manifestamente ao nível de um bacharelato de outrora, e não têm condições económicas de auto-financiamento ou bolsas para se tornarem em autênticos "universitários", isto é, caminhando para o mestrado e doutoramento.
Como os cursos conducentes a estes graus estão a cargo de pessoas já muito sobrecarregadas com o ensino, a administração e a investigação, os numerus clausus têm se ser baixos, porque cada orientador não pode, honestamente, ter, por exemplo, 20 orientados. Como a penúria económica é total, e entra assim menos dinheiro de propinas, também não há possibilidade de admitir docentes novos.
A rotina, e a nostalgia obsessiva do momento da reforma, instalam-se entre os seniores, quando estes seriam em princípio os elementos mais valiosos do sistema, se libertados de "teias burocráticas", e avaliados, sim, pela sua produção de conteúdos.
Uma das formas de resolver o problema deve já estar a praticar-se em vários lados, e é óbvia (no estrangeiro, frequente):
- alunos de mestrado poderem colaborar, como monitores, a nível de certos módulos de disciplinas de licenciatura, com redução das suas propinas, aliviando os docentes;
- idem para estudantes de doutoramento relativamente a cursos de licenciatura e de mestrado.
Enfim, enunciar soluções é facílimo, implementá-las é sempre dificílimo - eu sei.
Mas também onde não há pão todos gritam e ninguém tem razão.
- Para os docentes mais novos (?) predomínio da investigação e da administração.
- Para os docentes na fase cronológica média da sua carreira (após o doutoramento, digamos) algum equilíbrio entre as três componentes, com predomínio para o ensino (nomeadamente pós-graduado) e investigação.
- Para os docentes seniores (catedráticos ou equivalentes em curriculum), predomínio da investigação e exclusividade do ensino pós-graduado.
A sobrecarga administrativa e burocrática, que não está, em geral, na vocação do autêntico investigador/professor, é muito pesada porque a "máquina" não tem dinheiro para pagar a funcionários competentes em número suficiente que tratem da burocracia e da gestão corrente. Descarrega assim essas tarefas para cima de pessoas que podiam produzir mais-valias enormes para o país, dado ser suposto representarem as suas maiores competências científicas.
Esta irracionalidade na gestão de recursos paga-se cara: paga-se em atraso e em subserviência ao conhecimento produzido lá fora.
Esta não é uma perspectiva derrotista: tem-se aprendido e melhorado muito. Mas as assimetrias (entre os domínios privilegiados de investigação e os outros) estão a crescer dentro do sistema. Este não se renova em muitos campos, injectando "sangue jovem" na máquina; e muitas pessoas de valor chegam ao fim de uma licenciatura curta, manifestamente ao nível de um bacharelato de outrora, e não têm condições económicas de auto-financiamento ou bolsas para se tornarem em autênticos "universitários", isto é, caminhando para o mestrado e doutoramento.
Como os cursos conducentes a estes graus estão a cargo de pessoas já muito sobrecarregadas com o ensino, a administração e a investigação, os numerus clausus têm se ser baixos, porque cada orientador não pode, honestamente, ter, por exemplo, 20 orientados. Como a penúria económica é total, e entra assim menos dinheiro de propinas, também não há possibilidade de admitir docentes novos.
A rotina, e a nostalgia obsessiva do momento da reforma, instalam-se entre os seniores, quando estes seriam em princípio os elementos mais valiosos do sistema, se libertados de "teias burocráticas", e avaliados, sim, pela sua produção de conteúdos.
Uma das formas de resolver o problema deve já estar a praticar-se em vários lados, e é óbvia (no estrangeiro, frequente):
- alunos de mestrado poderem colaborar, como monitores, a nível de certos módulos de disciplinas de licenciatura, com redução das suas propinas, aliviando os docentes;
- idem para estudantes de doutoramento relativamente a cursos de licenciatura e de mestrado.
Enfim, enunciar soluções é facílimo, implementá-las é sempre dificílimo - eu sei.
Mas também onde não há pão todos gritam e ninguém tem razão.
5 comentários:
Sei que em Braga uma estudante de Mestrado em Psicologia estava inserida numa modalidade desse tipo, em que lhe eram reduzidas as propinas em troca de serviços como monitora de algumas disciplinas.
por motivos de propaganda politica o governo (este e anteriores)tentaram criar a ideia de que os professores só trabalhavam nas horas lectivas e que era preciso "rentabilizar" as horas não lectivas, obrigando os professores a ficar nas escolas a tratar de burocracias. Parece que estudar e investigar não são tempos produtivos para os ministérios.
Aliás a tecnocracia se instalou ultimamente nos ministérios têm vindo a varrer progressivamente a cultura humanista para fora das universidades, como algo obsoleto e inútil. Um pouco como quem coloca um parente afastado num lar de idosos. Só interessa aquilo que se pode transformar numa patente ou num produto/serviço vendável.
"Instituto Superior Técnico Rules..."
Eu virei-me para o deserto...
Relativamente à exclusividade dos catedráticos e afins para o ensino pós-graduado, discordo. Determinadas temáticas necessitam de maturidade intelectual que não está ainda suficientemente desenvolvida nos mais novos. Por outro lado, seria mau isolar alunos do 1º ciclo do pessoal docente mais velho e vice versa. Os primeiros não beneficiavam do tal saber (e outras mais valias humanas) que uma cátedra pressupõe, e os segundos, ficam a desconhecer uma realidade sobre a qual até têm responsabilidades pedagógicas e de gestão.
Sim, António Valera, a sua argumentação é válida e tem sido apresentada muitas vezes. A minha nótula não podia tocar em muitos pontos.
Mas a minha experiência pessoal, apesar de tudo (que aliás se confirma no que se faz em muitas universidades estrangeiras, no sentido da máxima rentabilização de pessoas que não podem toda a vida estar a explicar as bases do seu saber a jovens que entram na sua maioria na Universidade ainda muito jovens de mentalidade...)é a de que muitos alunos dos primeiros anos, na sua maioria, só me entenderão porque faço um esforço titânico de aproximação... Ora, docentes mais novos, e mais próximos etariamente deles, seria bom: isso significaria novos empregos (sabemos como isso infelizmente é mítico, hoje, mas haveria soluções para o contornar,como sugiro na postagem)e maior proximidade com alunos que, em certos casos, são ainda um pouco... adolescentes (sem ofensa para ninguém).
Os professores mais velhos deveriam estar ligados à coordenação de cursos e à docência de pós-graduações, maioritariamente, onde o seu esforço poderia ter maior feedback e até ser mais estimulante para todos... mas respeito outras opiniões, porque cada solução tem vantagens e desvantagens. Tal como está, não está bem. Estamos todos a trabalhar demais e a ter pouco tempo para a investigação própria e para orientar a dos outros.
Escravos da informática, metralhados com reuniões e burocracias imperativas, toda a nossa criatividade assenta em roubar horas ao sono e aos fins de semana. Ainda hoje vim de umas provas de mestrado na Univ. do Algarve!... num fim de semana prolongado. É demais... um professor é um ser humano.
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