Fonte: http://www.andy-julia-photography.com/home.htm
a realidade está cheia de esquinas. às vezes dobramos uma delas e encontramos um outro mundo, povoado de anjos e de demónios, uma pessoa a cantar sozinha, um bando de borboletas debaixo da relva e voando num universo inferior, um coro de mulheres numa mesquita, enfim, tudo o que se queira imaginar.
passamos do silêncio mais total dos pássaros para dentro do rufar dos tambores; não para dentro do som, mas para dentro dos tambores mesmo, sentindo escorrer-nos na nuca a sua gordura suada pelas batidas dos tocadores.
os dias lamentavelmente acabam. e um dia virá o último dia, sem dia seguinte nem aquele intervalo em que uma pessoa se pode encostar a uma esquina e espreitar para o outro lado. apenas encontrará a língua esticada de um diabo que nos sorverá com uma gargalhada vermelha. e depois de tantas vicissitudes, termina-se assim, sem notícia especial.
tu tiveste sempre a habilidade de me escapar. mas eu facilitei-te a vida, na minha ingenuidade e sobretudo pelo facto de só existir dentro da escrita.
vivo entre esquinas e espelhos desdobrados até ao infinito, inscrevendo onde posso as mais loucas e delirantes proposições.
esqueci-me de como os teus seios são macios, e se podem prender pelos mamilos, oh esquiva, oh infinitamente jogadora.
basta colocar-te as mãos nas aberturas das axilas e dobras-te toda ao meu império, oh sensitiva.
e no entanto tens poder sobre mim, não sei qual. o poder da esquina, aí onde apesar de tudo se esconde a última pergunta, o último corpo, o suspiro de desejo que nos corta a espinal medula de alto a baixo, com um bisturi de gelo.
é, vivo a cruzar esquinas, surgem-me grupos de homens armados, caravanas silenciosas, oásis exóticos, haréns cheios de velhas a dançarem e a espalharem essências. só coisas vulgares, dominadas pela pontualidade, querendo utilizar-me sem qualquer consequência, sem qualquer emoção verdadeira.
essa seria a do ser único, o que aparece desprevenido como os pombos no meio das praças, e se dobra ao sol como um pombo quando expõe o papo branco.
deixando voar penas em volta, brancas, que se apressam a esvoaçar para outro plano, sob as saias rodadas de um mundo onde não encontram constrangimento.
passamos do silêncio mais total dos pássaros para dentro do rufar dos tambores; não para dentro do som, mas para dentro dos tambores mesmo, sentindo escorrer-nos na nuca a sua gordura suada pelas batidas dos tocadores.
os dias lamentavelmente acabam. e um dia virá o último dia, sem dia seguinte nem aquele intervalo em que uma pessoa se pode encostar a uma esquina e espreitar para o outro lado. apenas encontrará a língua esticada de um diabo que nos sorverá com uma gargalhada vermelha. e depois de tantas vicissitudes, termina-se assim, sem notícia especial.
tu tiveste sempre a habilidade de me escapar. mas eu facilitei-te a vida, na minha ingenuidade e sobretudo pelo facto de só existir dentro da escrita.
vivo entre esquinas e espelhos desdobrados até ao infinito, inscrevendo onde posso as mais loucas e delirantes proposições.
esqueci-me de como os teus seios são macios, e se podem prender pelos mamilos, oh esquiva, oh infinitamente jogadora.
basta colocar-te as mãos nas aberturas das axilas e dobras-te toda ao meu império, oh sensitiva.
e no entanto tens poder sobre mim, não sei qual. o poder da esquina, aí onde apesar de tudo se esconde a última pergunta, o último corpo, o suspiro de desejo que nos corta a espinal medula de alto a baixo, com um bisturi de gelo.
é, vivo a cruzar esquinas, surgem-me grupos de homens armados, caravanas silenciosas, oásis exóticos, haréns cheios de velhas a dançarem e a espalharem essências. só coisas vulgares, dominadas pela pontualidade, querendo utilizar-me sem qualquer consequência, sem qualquer emoção verdadeira.
essa seria a do ser único, o que aparece desprevenido como os pombos no meio das praças, e se dobra ao sol como um pombo quando expõe o papo branco.
deixando voar penas em volta, brancas, que se apressam a esvoaçar para outro plano, sob as saias rodadas de um mundo onde não encontram constrangimento.
é verdade que às vezes pareces ocorrer-me, mas trazes um punhal mortal cravado no corpo, escondido de modo a não se ver. estás morta, e no entanto aproximas-te com meneios de odalisca, dispersando no ar lampejos da tua pele coberta de óleos e outras alusões jovens.
ainda não encontrei uma forma de lidar com isto, de fazer uma poesia contigo que arrase com toda a poesia anterior, a qual já me fatiga; uma situação que me deixe os olhos cheios de sal;
quero um olhar de onde só possam de agora em diante crescer imagens de facto fortes e importantes, místicas vuluptuosas, infectadas pelo lupus da história, contorcidas pela crise que as toma desde há séculos.
quero a tua cintura, sim, quero deitar-te ao chão, esmagar-me contra uma esquina, morrer para tudo isto, mesclar-me no teu gesto, entre o vermelho dos teus lábios, regressar ao movimento intempestivo com que partem aves enormes para outros planetas, indiferentes à geometria.
quero ser trespassado pelos teus piercings, sufocado pela tua roupa, quero tirar da boca a tua roupa interior, sobre um palco onde o público aplauda o meu número. não suporto nada que seja menos que um perigo intenso, um risco total, uma luta sem regresso.
e pisar com força no chão este cigarro, já tão fumado, da beleza ou do sublime. pisá-lo com força, no chão sujo, com verdadeiro escárnio.
quero cobrir-te, quero encher-te como se enche uma esquina vazia quando estamos advertidos, quando somos de facto poderosos. quando a sombra está connosco, quando a música nos habita totalmente. quando tu finalmente ocorres, isto é, quando eu me revejo finalmente em toda a resplandescência da minha própria formosura, ungido e brilhante, com a força toda virada para a frente, como uma espada empunhada e que sai não de um cinto, mas do corpo próprio.
quero queimar-te com a espada de fogo desta poesia, abrir-te como um bivalve, não te deixar nem um milímetro de rugosidade por onde se insinue de novo a persistente sombra, a simples suspeita de mais uma insuportável esquina.
ainda não encontrei uma forma de lidar com isto, de fazer uma poesia contigo que arrase com toda a poesia anterior, a qual já me fatiga; uma situação que me deixe os olhos cheios de sal;
quero um olhar de onde só possam de agora em diante crescer imagens de facto fortes e importantes, místicas vuluptuosas, infectadas pelo lupus da história, contorcidas pela crise que as toma desde há séculos.
quero a tua cintura, sim, quero deitar-te ao chão, esmagar-me contra uma esquina, morrer para tudo isto, mesclar-me no teu gesto, entre o vermelho dos teus lábios, regressar ao movimento intempestivo com que partem aves enormes para outros planetas, indiferentes à geometria.
quero ser trespassado pelos teus piercings, sufocado pela tua roupa, quero tirar da boca a tua roupa interior, sobre um palco onde o público aplauda o meu número. não suporto nada que seja menos que um perigo intenso, um risco total, uma luta sem regresso.
e pisar com força no chão este cigarro, já tão fumado, da beleza ou do sublime. pisá-lo com força, no chão sujo, com verdadeiro escárnio.
quero cobrir-te, quero encher-te como se enche uma esquina vazia quando estamos advertidos, quando somos de facto poderosos. quando a sombra está connosco, quando a música nos habita totalmente. quando tu finalmente ocorres, isto é, quando eu me revejo finalmente em toda a resplandescência da minha própria formosura, ungido e brilhante, com a força toda virada para a frente, como uma espada empunhada e que sai não de um cinto, mas do corpo próprio.
quero queimar-te com a espada de fogo desta poesia, abrir-te como um bivalve, não te deixar nem um milímetro de rugosidade por onde se insinue de novo a persistente sombra, a simples suspeita de mais uma insuportável esquina.
copyright voj 2007
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