Um corpo que se apresenta em pijama,
Uma mão para cada lado estendida na vertical,
Não aparece como nu, como a aparição
Absoluta.
Mas ocorre num limiar:
Entre a sala e a câmara de dormir,
Entre o calçado e o descalço,
Entre a realidade e o sonho.
Um corpo que se apresenta em pijama
Apresenta-se pois semi-nu. Vertical,
Vai recostar-se, expor-se às sombras
Que habitam a noite da casa:
As mãos caídas para se entregarem ao sono.
Um corpo assim não pode ter rosto.
O rosto, lugar da exposição da nudez,
Não pode desdobrar a semi-nudez do corpo.
Sim, para que a sugestão de entre dois momentos
Passe, para que o corpo possa ainda
Salvar-se como aparição, ele precisa
De ter já a cabeça sobre a bandeja da sala.
E expor-se degolado. Em pijama que o segura.
Em mãos que o emolduram, deitadas.
Assim vai em toda a sua formosura
E insegurança. Em toda a sua mais subtil
Tremura.
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