ainda é dia, enquanto aqui
a noite já se desdobra
sobre si mesma
há muito
em colchas e colchas,
todas dobradas
como ondas grenás, paradas
e com sombras entre cada uma
(a cama repousa sozinha
noutra sala, uma cama que ocupa
a sala toda)
estamos aqui há horas no messenger
em frases sucessivas, ondas ou dobras
de uma colcha que se vai estendendo
sobre o atlântico
e nela de um lado é dia,
e do outro lado é noite,
e acontece assim
e acontece assim
uma espécie de cegueira
(enquanto noutra sala
o vulto dorme
sobre a colcha
entre as dobras,
e daqui até lá
vai todo o meu espaço
e todo o meu tempo
já vividos)
já vividos)
então acendem-se
lâmpadas
lâmpadas
muito fortes,
e queimam
e queimam
as mãos sobre as teclas;
e vem violenta a frase,
como onda,
como dobra gigante
sobre todo o planeta,
como onda,
como dobra gigante
sobre todo o planeta,
quando o atlântico ondula
sob o apelo terrível
que se dobra
vezes e vezes sobre si
dentro do escuro
da garganta
vezes e vezes sobre si
dentro do escuro
da garganta
"pára,
tenho um incêndio
tenho um incêndio
no ventre,
tenho o ventre
tenho o ventre
em carne viva,
estremeço,
estremeço,
e é
insuportavelmente
delicioso":
sobre o atlântico.
a colcha enorme.
estendida, em extensão.
estendida, em extensão.
a cama a dormir alta noite.
as ondas, as dobras, as vagas
grenás.
o som do Morse.
as teclas todas fundidas
na ponta dos dedos.
o som do Morse.
as teclas todas fundidas
na ponta dos dedos.
daqui até lá
todo o tempo
até à dobra
da minha morte.
da minha morte.
voj dez. 2009 porto
ver versão diferente no facebook, minha página, notes
Sem comentários:
Enviar um comentário