domingo, 1 de março de 2009

o começo da Grande Festa



Não somos espectaculares?
Livres, livres, livres! Olhem
Para nós!

Nós olhamos fixamente para ver
Se nos olham. Tudo o que pedimos
É a vossa atenção. Vamos começar
A acontecer.

Foram horas e horas e horas
E boiões, e frascos, e vaporizadores,
E esfoliadores, horas e horas e horas
De Cabeleireira.

Flashes, flashes, candeeiros, lâmpadas,
E acerto os óculos sobre o bâton
E acerto os lábios sobre o cabelo
E acerto o decote sobre os joelhos
E acerto o penteado, e avanço.

Avançamos livres, livres, livres.
Quem controla aqui agora somos nós,
Temos o Automóvel, temos o Telemóvel,
Temos o iphone, temos gps,
Marcamos a agenda, marcamos o terreno:

Desenrolem-se as carpetes grenás
E as violetas voadoras, que nós avançamos.
Só queremos ser olhadas, sentir a seda do desejo
Nos olhares. E os clarões.

Temos tudo o que uma mulher deve ter.
Nós somos a Panóplia.
O automóvel da Parafernália de Lábios Vermelhos.

Vamos em frente. Cultivadas. Emancipadas. Dotadas.
Sobre-dotadas. Sobre – tudo.
Comemos tudo
O que nos apetece, estamos aqui para vingar milénios.

Sabemos o que queremos. Vorazmente, por que não?
Sabemos o que temos. Sabemos
Como nos entendemos umas com as outras,
Trocamos Tatuagens entre nós.

Precisamos apenas do vosso olhar vermelho
Esbugalhado.Não é que nos faça falta,
Se não é aqui é ali, há espelhos por todo o lado.
A escolha é livre. Nós somos livres. livres.

E queremos espelhos que nos peguem na cintura,
Que nos dobrem pela cintura para dançar,
Que nos enrolem na Grande Excitação.

Já vamos aqui com um certo grau de humidade
Com um certo odor a noite a começar
Nada que uma base não componha, um toque
De pó-de-arroz. Prá passerelle.

Vamos todas em frente. Somos o assalto final.
Reparem só na Máquina. Notem a Produção.
Vamos ao volante do Acontecimento.

E viramos o volante, ora à esquerda, ora
À direita, sempre com aquele toque imoderado
De quem conduz a sua vontade,
O seu desejo, a sua liberdade.

Não solicitamos. Dispomos.
Estamos no controlo
Da situação.

Olhem, olhem, olhem. A Grande Excitação
Vai começar. Nós temos as chaves da abertura.

E as vagas da multidão abrem-se para os lados
Como águas que se apartam para passarmos
Entre constelações de luzes
Directas ao centro do acontecimento
Ao planisfério dos Grandes Candelabros.

Vamos sobre o Gume da Humidade
Vamos sobre o Tacto dos Grandes Lábios
Vamos inaugurar o Império do Veludo.

Movemo-nos a grande velocidade
O Acontecimento caminha-nos sobre as espáduas
Somos as Grandes Sodomizadas pela nossa Compulsão
De Domínio. E é isso mesmo que está no centro
Da Festa, é essa a proposta sobre a Mesa.

Liberdade!

________________________
Foto: Frank Herholdt

Site: http://www.frankherholdt.com/html/personal_detail2.php?id=160&gallery=Personal
Agradeço a este fotógrafo a autorização para reproduzir os seus trabalhos
Texto: voj porto 2009 fev.

4 comentários:

Juliana Levenhagen disse...

oi...desculpe a demora! Obrigada por comentar em meu blog, okey?

Muito bonito o seu...sempre q der, visitarei! heehe

Um grande abraço.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado.
Vitor

Ana Paula disse...

Movemo-nos a grande velocidade
O Acontecimento caminha-nos sobre as espáduas
Somos as Grandes Sodomizadas pela nossa Compulsão
De Domínio. E é isso mesmo que está no centro
Da Festa, é essa a proposta sobre a Mesa.

Liberdade!

Claro que a imaginação não tem limites! Alguém tem que se identificar com as máscara, e com a frustação de não ser mulher. Porque a sodomização é característica dos fantasmas masculinos assim como o transformismo.Porque isto meu amigo é diferente, a deitar soutiens para uma fogueira.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Sugere que eu sou frustrado por não ser mulher?... Depois faz uma afirmação generalizante sobre a sodomia e os fantasmas masculinos e ... que tem a ver isso com o transformismo? E que é isso dos soutiens para a fogueira, que confusão!
Este texto não se situa ao nível da prosa,não será bem um poema, é um esboço de algo que procura ironizar com os estereótipos do feminino tal como aparecem hoje nas revistas, nos filmes, enfim, na cultura light. Para aliciarem a mulher a modelos que a levam a entrar no mercado. Isto levava longe. O que eu pretendo é fazer uma crítica dos estereótipos do femimino, tal como ridiculamente aparecem nos media. Interesso-me muito pelo pensamento feminista. Já leu Judith Butler?... por exemplo? O carácter performativo da constituição de género... pois a Judith Butler ainda esteve há meses no Porto! Etc.