sexta-feira, 13 de março de 2009

longe



Amigo(a)
se tens condições económicas minimamente suficientes para viver uma vida decente e poderes estudar, se tens a impressão de que consegues fazer coisas bem feitas, se te sentes frustrado(a) por não teres visibilidade, não te preocupes com isso.
Não te feches num casulo, mas vai contra-corrente.
Faz em ti a única revolução possível.
Mantém a serenidade quando todos estiverem loucos.
Mantém a distância quando todos se pegarem.
E continua a estudar e a fazer. Não é a produzir como uma máquina. É a fazer coisas interessantes, a descobrir.
Não ligues demasiado ao ambiente, se puderes, porque o ambiente é poluído e as notícias sobre ele, em 90% dos casos, ainda o poluem mais.
Não te feches num claustro, mas visita claustros, e demora-te aí.
Contempla as grandes obras dos homens e mulheres da arte, da ciência, da filosofia. Tenta entendê-los.
Não vivas crispado. Não vivas a mando de outrém, senão no indispensável para ganhares a vida.
Sê soberano.
Não te preocupes com o silêncio dos outros. Um dia outros hão-de vir e apreciar o que fizeste. Pode ser depois da tua morte, mas se tu já o pressentires agora, isso far-te-á mais livre e feliz.
Não sejas corroído pela inveja, pelo medo, pela ansiedade, pela nostalgia.
Não queiras sentir uma felicidade estrondosa. Acolhe a felicidade possível de cada dia, apesar do atrito.
E chegará o momento em que farás algo, e ao olhares esse algo que fizeste, no meio da sociedade que te obriga a gozares como se fosse um castigo, diz assim para ti:
talvez, apesar de todo o aleatório de eu estar aqui, talvez tenha valido a pena, apesar do sem-sentido de tudo isto.
O importante é a consciência tranquila de que deste o melhor, honestamente, sem artifícios nem jogos, com um grande empenhamento, com uma grande força de vontade.
E nunca contes que leste isto aqui, estes conselhos morais, porque não estão de moda.
Marimba-te para a moda, para o que está a dar, para os jogos dos que vivem colados ao presente, aos interesses, robots da agitação frenética.
Sê soberano. Traça sobre o peito as fitas da tua independência. Dá a mão ao amor, por efémero que seja; e se conseguires, luta por que não seja tão efémero assim. Paira acima do sofrimento.
Não abdiques do essencial. Não há nenhuma lei, ou ordem, que não seja fabricada por uns quantos seres humanos, para servir os seus interesses.
Cumpre as regras para não dares pretextos a ninguém de te maçar. E no momento seguinte, esquece-te de tudo, ama o teu amor, habita o aconchego das árvores, planta uma árvore no meio do mar e embebe os olhos de verde e de azul.
Longe de qualquer costa.
Estuda o que os melhores fizeram antes de ti. E faz também. Não te preocupes com a publicidade. Vive longe do frenesim, da ganância, dessa obscenidade.


3 comentários:

Daniela Martins disse...

Belos conselhos!

Que muitos o possam e queiram seguir. Longe...

Catarina Vitória disse...

Boa noite!
Antes de mais quero agradecer o convite que me fez para assistir ao lançamento do seu "Pequeno Livro de Aforismos". Infelizmente, não pude estar presente. Espero que tenha sido um sucesso.
Espero que o seu próximo livro seja muito bem sucedido.=)
Obrigada por continuar a escrever poemas inspiradores.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Gostei muito destes concelhos. Precisa de ouvir e ler algo assim. Obrigado, RS.