O arqueólogo pode ser visto, por exemplo, como:
- Um médico que chegou demasiado tarde: o paciente (o passado) entretanto morreu. Demasiado pessimista, esta versão não dá para divulgação pública. Além de que é, claro, muito discutível. Como pode ter morrido uma coisa que todos os dias retrabalhamos, imaginamos, reinventamos, reescrevemos? Etc.
- O médico de primeiros socorros urgentes, provido daquelas máquinas de provocar choques para reanimação cardíaca: com imaginação e sorte, é talvez possível dar vida ao passado e fazê-lo reviver de novo. Versão da esperança dos positivistas (espécie em declínio, mas declínio com a lentidão própria dos tempos geológicos...), dá para divulgação pública e pode ser emocionante. Rende obviamente muito em termos turístico – mediáticos. As pessoas querem sempre passar para novas realidades (desdobramentos imaginativos da realidade chata em que temos de viver). Na verdade, o ideal é viver toda a realidade como uma ilusão. Aqui, as novas tecnologias, metendo-nos dentro do écrã, são decisivas. Ainda vamos ver o passado, mesmo. O passado é o nosso futuro, camaradas.
- O médico consolando o familiar: deixe lá, agora há que fazer o luto, que a vida continua. E você pode finalmente ser arqueólogo; se o passado fosse ainda presente não ia escavar por debaixo dos pés das pessoas, interrompendo-lhes o dia a dia... além de que se ia confundir com sociólogos, jornalistas, estabelecer confusão. Versão profissionalizante (o passado é uma tarefa indispensável e urgente e dá empregos a todos nós que o estudamos, tratamos dele, o ensinamos, etc).
- O especialista de medicina legal que chegou tarde para a autópsia. O passado está reduzido a algo pior que um cadáver: a um esqueleto. Não, menos do que isso (porque aí ainda faria as delícias dos antropólogos físicos): a fragmentos de fragmentos de fragmentos de esqueletos e outros restos. Nunca se conseguirá reconstituir (fantasma da perda), mesmo com as mais avançadas técnicas de maquilhagem post-mortem. Versão céptico-decepcionante. Mas a tecnologia não pára, e mesmo aqui tudo se pode esperar (visão futurista compensatória – escatologicamente, o futuro há-de-nos regenerar de todos os males passados e presentes – qual outra face da moeda do cepticismo).
- O próprio doente, sendo por vezes sem cura. Nesse caso, deixo aos médicos a definição da patologia.
Como, eu talvez me insira na última categoria?! Não tinha pensado nisso... esta centração no eu é temível... ou será falta de humor sua?...
- Um médico que chegou demasiado tarde: o paciente (o passado) entretanto morreu. Demasiado pessimista, esta versão não dá para divulgação pública. Além de que é, claro, muito discutível. Como pode ter morrido uma coisa que todos os dias retrabalhamos, imaginamos, reinventamos, reescrevemos? Etc.
- O médico de primeiros socorros urgentes, provido daquelas máquinas de provocar choques para reanimação cardíaca: com imaginação e sorte, é talvez possível dar vida ao passado e fazê-lo reviver de novo. Versão da esperança dos positivistas (espécie em declínio, mas declínio com a lentidão própria dos tempos geológicos...), dá para divulgação pública e pode ser emocionante. Rende obviamente muito em termos turístico – mediáticos. As pessoas querem sempre passar para novas realidades (desdobramentos imaginativos da realidade chata em que temos de viver). Na verdade, o ideal é viver toda a realidade como uma ilusão. Aqui, as novas tecnologias, metendo-nos dentro do écrã, são decisivas. Ainda vamos ver o passado, mesmo. O passado é o nosso futuro, camaradas.
- O médico consolando o familiar: deixe lá, agora há que fazer o luto, que a vida continua. E você pode finalmente ser arqueólogo; se o passado fosse ainda presente não ia escavar por debaixo dos pés das pessoas, interrompendo-lhes o dia a dia... além de que se ia confundir com sociólogos, jornalistas, estabelecer confusão. Versão profissionalizante (o passado é uma tarefa indispensável e urgente e dá empregos a todos nós que o estudamos, tratamos dele, o ensinamos, etc).
- O especialista de medicina legal que chegou tarde para a autópsia. O passado está reduzido a algo pior que um cadáver: a um esqueleto. Não, menos do que isso (porque aí ainda faria as delícias dos antropólogos físicos): a fragmentos de fragmentos de fragmentos de esqueletos e outros restos. Nunca se conseguirá reconstituir (fantasma da perda), mesmo com as mais avançadas técnicas de maquilhagem post-mortem. Versão céptico-decepcionante. Mas a tecnologia não pára, e mesmo aqui tudo se pode esperar (visão futurista compensatória – escatologicamente, o futuro há-de-nos regenerar de todos os males passados e presentes – qual outra face da moeda do cepticismo).
- O próprio doente, sendo por vezes sem cura. Nesse caso, deixo aos médicos a definição da patologia.
Como, eu talvez me insira na última categoria?! Não tinha pensado nisso... esta centração no eu é temível... ou será falta de humor sua?...
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