quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

11ª mesa-redonda de Primavera - 22 e 23 de Março

Pedimos a todos os oradores que ainda o não tenham feito que, com a maior urgência, enviem para o DCTP da FLUP os resumos das suas intervenções.
dctp@letras.up.pt
Informações práticas: telefone do Departamento: 226077172

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Dado termos muitas comunicações, pedimos a todos os oradores que sejam sucintos, guardando para a publicação a explicitação de todos os seus argumentos; o melhor é calibrar cada intervenção para um máximo de 15 minutos, porque há sempre alguns atrasos e perdas de tempo entre comunicações. Caso apresentem imagens, pedimos que estas sejam organizadas em função desta limitação temporal, o que significa muito poucas imagens - as imagens arrastam-nos sempre para explicações que são difíceis de controlar... a todos, ficamos muito obrigados pela compreensão, e valiosa colaboração que nos prestam!

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Por mim, publicito já aqui o sentido geral da minha intervenção (prevista para dia 22, às 18,30 h.). Apresentarei apenas um conjunto de tópicos.

Arquitectura e poder difuso: a acção colectiva como forma de construção de sociabilidades em comunidades da oralidade

Resumo:

Trata-se de ver como, em comunidades que não utilizam a escrita como forma principal de regularizar e normalizar a acção colectiva (códigos formais), as formas de sociabilidade se podem construir e reforçar na própria acção colectiva, explícita ou implicitamente negociada.
Essa questão é vital para perceber mais de 90% da “história” ou “experiência” humana, que se deu e dá “fora do texto” normativo explícito, através de múltiplos modos e resistências que são subtilmente ensaiados em contínuos jogos de poder. Só a mentalidade delirante de um legislador idílico poderia imaginar alguma vez encaixar a vida dentro de um código formal: a vida (a própria energia vital) é de certo modo o que existe apesar desse código, e portanto contra ele, resistindo a ele. Freud, Foucault, Bourdieu, e tantos outros autores, ajudaram-nos a ver esse lado “sombrio” da realidade que deixa à luz - que herdámos das velhas crenças do positivismo iluminista, racionalista - apenas uma frincha pequena por onde entrar. De facto, viu-se as atrocidades onde conduziram as vontades de reduzir a vida à regra. Mas muitos ainda não quiseram aprender; até porque os seus interesses coincidem com essas ideologias tecnocráticas e totalitárias, que sob forma de inovações em catadupa, e em nome da modernização e da própria democracia, tentam apertar o laço das liberdades, regularizando tudo, legislando sobre tudo.
As crenças partilhadas, organizadas ou não sob forma de grandes organizações religiosas, o plano das afectividades, das emoções, são fundamentais para se perceber “os momentos da verdade”, os modos como realmente funcionam as sociedades nos seus constantes e infinitos “agenciamentos” inter-pessoais, institucionais, colectivos, como campos de tensão, de encontro, de diálogo, de realização de tarefas, de assunção de compromissos, de distribuição de estatutos, de distinções.
O ser humano “atribuiu-se”, desde há milénios, a tarefa de organizar espaços simbolicamente, fazendo deles redes de circuitos e de lugares (movimento e paragem). Aos “nós” dessas redes chamamos às vezes “arquitecturas”, realidades mais ou menos sólidas, perduráveis, onde uma série de materiais e suas tensões e forças foram deliberadamente arquitectados para criar diferenciações: interiores e exteriores, acessibilidades e impedimentos, pertenças/intimidades e exterioridades, nós e eles, etc. Desde o abrigo ao lugar de culto, desde o efêmero ao monumental, a construção, manutenção e reformulação de espaços tem sido uma das principais formas de constituição das sociabilidades, de diálogo com os materiais e as forças ao dispor no meio, entendido este não como uma realidade externa aos indivíduos, mas como o universo onde eles estão incluídos e onde, colectiva e individualmente, tentam tenazmente dar um sentido habitável às suas vidas. Assim, até num campo de refugiados ou num improvisado abrigo de um “homeless” citadino podemos ver um arqueologia das relações dos seres humanos com o espaço.
A arqueologia é um modo de ver essas realidades, a partir da experiência específica de estudos e paisagens ditas “do passado” – nesse sentido a sua “bagagem” tem muito mais a aportar do que frequentemente se imagina, e do que muitos dos próprios arqueólogos pensam, por vezes não percebendo inteiramente a enorme pregnância explicativa da sua própria experiência, e deixando-se assim relegar para posições de marginalidade dentro dos campos de saber actuais, dominados pela ambição das aplicações de rentabilidade imediata.
As "comunidades da oralidade" não são resíduos exóticos: somos todos nós, na vida prática.




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