quinta-feira, 13 de novembro de 2008

comovo-me






Quando te sentas no fundo da escada
À minha espera,
Agarrada às tuas extremidades,

Quando te sentas
Sobre as saias de veludo, e gozas
Durante horas o prazer de me esperares,
Esse prazer tão ligado ao tacto
Do tecido macio nas nádegas;

Quando me esperas entre um ponteiro
E outro, como um grande pássaro dócil,
Vindo do alto de uma catedral distante,
Como uma pomba ou como um lobo
Confundidos,

Comovo-me.

Toda uma vida
Ao meu serviço!
O que eu te devo, as carpetes grenás
Sobre as quais nos deitámos,
As colchas impecáveis,
Os pratos fumegantes.

É um velho prédio
Em que habitamos; castanho
Nas escadas, castanho na minha memória,
Castanho na lentidão da subida.

E quando chego ao cimo
Aí estás tu, sentada sobre uma cadeira
Posta em cima da mesa;
Disponível na cozinha,
Disponível nas colchas,
Disponível nos bordados.

Comovo-me.

Essa expressão dos teus olhos.
Essa maneira de te dobrares
Como se fosses um grande pássaro
Que me esperasse no pântano
Que me esperasse na corente

O que leva os felizes e
Os infelizes
Para o mesmo destino, para o mesmo
Sossego.

Comoves-me com tamanha
Disponibilidade.
Dobro-me sobre o veludo, e sobre
O que ele esconde.
Beijo-te onde mais sentes.

E trago na boca o clítóris
Como um gato traz um rato
Nas mandíbulas, triunfante.

Orgulhoso de me ofereceres o teu sangue.

Durante toda uma vida.
Ao longo de toda uma escada,
De colcha em colcha,
Sempre disponível na sombra!

E então, com o tambor, toco de novo
A música infantil dos dias gloriosos

Em que a alma apressada
Encontra finalmente o que
Tão afanosamente procurara

Sem Te re-conhecer logo.



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Foto: Bogdan Zwir
Fonte (rep. aut.): http://www.zwir.ru/zwir.htm
Texto: voj porto 2008 novembro

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