Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
sábado, 29 de novembro de 2008
desfalecerias
se tu pudesses ver
a minha face não visível
aquela que apenas pressinto
se tu pudesses contemplar
as minhas paisagens interiores
desfalecerias
a uns milímetros da face
que só pressinto
sentirias esse deserto
que continua no céu
e este no cosmos
essa orla de estrelas
essa coroa de pétalas de púrpura
sentirias os diamantes
entre o estômago e o baço
se tu pudesses ver por mim
o deserto que a cegueira me impede
desfalecerias
ante as estátuas verticais
levitantes
ante um mar de dunas
que continua noutro mar de dunas
e noutro, e noutro, e espalha
a sua poeira última, amarela
no cosmos
se tu pudesses segurar
por um minuto que fosse
a coroa para que caminho
e que eu próprio não sei onde está
desfalecerias
cultuando as sandálias
desenhando o trajecto
desenhando de forma nítida a minha face
invisível
o esplendor inimaginável
da face inexistente
o som que vem das paredes
do fundo do tempo, os tambores do cosmos
onde eu próprio desfaleço e desmaio
ante o Prenúncio do que não sei
nas Asas Azuis magníficas
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Texto: voj porto novembro 2008
Imagem: Cecilia Paredes (gentilente cedida pela autora)
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6 comentários:
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008
Súbito
É o olhar.
Ele se perde
Nas gotas gordas e moles.
Depois se joga
E explode desencanto na calçada
Desta tarde que chove e me invade
Mas enquanto a gota de água não atinge a calçada para explodir,
é magnífica no ar!
V.
Ainda que pudesse ver tudo o que não se vê dificilmente encontraria o segredo que habita em nós...Há coisas que estão dentro dos olhos.
O segredo, sim, que para nós mesmos o é.Mas ainda bem. Se víssemos tudo (?!)seríamos Deus, e não sei, mas ele deve estar cansado da eternidade. É melhor descobrir coisas terrenas,imaginar que nos olhos que nos olham estão os meus olhos olhando-me a mim. Conforto narcísico.
Sem dúvida!... se... se... se...
Já não se perde (ganha) tempo a comtemplar os outros... Muitas vezes nem a nós próprios... Vivemos de gritos mudos.
Adorei o poema!
Gracias.
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