Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
sábado, 29 de novembro de 2008
molhar-te
quanto desejava molhar-te
aspergir-te
do sal destas ondas
do brilho destas escamas
quanto
quanto desejava afogar-te
comer-te
temperada com saliva e sal
com o brilho destes peixes
que saltam do mar
e saltam
do interior da onda
directamente para o meio
dos teus seios
abrindo as conchas
da maresia,
afastando as válvulas
da embriaguês.
e eu ia
para o mar
e não me detinha
na sua margem
quanto
quanto te queria toda
molhada
com as duas luvas erguidas
viradas para o poente
com os lábios
pedindo: sal, sal, sal
e tu saías da areia
em toda a tua pele,
em toda a solaridade
do teu corpo,
e as tuas costas
vinham já molhadas
dessa velocidade
desse cheiro acre
do peixe, das escamas quando abrem
dos lábios quando se afastam,
das cortinas azuis
que se estendem todas, totalmente,
e pedem a onda
oh quanto
desejava a tua juventude
para a arpoar, erguer
entre cordas de linfa e sangue
num estertor de peixe
num ruído de escamas
numa congestão de iodo
quanto
me aproximava das falésias
do seu rebordo perigoso, e não
me detinha, perdendo-me
neste odor compacto,
nesta boca de peixe
nestes lábios líquidos e perigosos
nesta praia virada
para cima
sempre mais acima, erguia
a tua cintura, e tu molhada,
e tu salgada, e tu cortada, e viva
gritavas: corta-me, salga-me, asperge-me,
dá cabo desta monotonia.
deita ao céu todos os livros
deita ao iodo todos os apontamentos
deixa voar as pautas
que o conhecimento só adia
este momento da sofreguidão
de te saborear, posta em cima do fogo,
como vestal oferecida simplesmente
contra o bafo alaranjado do oceano
simplesmente deita-te
deixa só o umbigo
por onde entrar o mar
este odor a ovas, este tacto de escamas
esta praia erecta, completamente traçada
pelo sol
e eu risco um fósforo
por debaixo do teu lombo, pego-te
posta a posta
corto-te com a faca
do pescador
que se acerca do seu festim
e quer secar a tua humidade
mas nesse limite não paro
e nessa espinha me alongo
quando sobre o mar as estacas
te trazem alta, jovem,
com o sol nas nádegas,
com a lua no lombo,
com as estrelas em volta
dos lábios.
com o sexo roxo
cheio de algas e esponjas,
e os olhos atravessados
por anémonas
cheias de uma intenção, mesmo
fortíssima
bebo a tua humidade,
sal, sal, sal, sal, sal.
asperge-me, sacraliza-me, come-me
na tua juventude,
na solidez das ancas, no veludo
das aberturas, arpoa-me
neste desejo insensato.
apanha-me de surpresa.
vinga-te.
toda molhada.
como um cavalo cheio de suor.
coberto de escamas.
virado na direcção do mar
para além do mar
entre baterias
quanto!
como um cavalo de cujas narinas
saem constantemente, voando,
peixes
cheios de uma
humidade terrível,
de um arfar
no seu extremo limite
- vorazes de infinito.
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Fonte da imagem: http://www.sachafedor.eu/index.html
Autora: Sacha Fedderowsky
Texto: voj nov. 2008 porto
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4 comentários:
Damn good. Parabéns pelo poema.
Faz-me lembrar um texto que escrevi no ano passado.
Se me apareces à frente nem sei o que te faço. Suspeito que o desejo engoliu-me o sono e o bom senso. Respirar arde-me. Pensar-te custa-me.
Na minha cabeça só a imagem das carícias a roçarem-te a cintura, do teu olhar no meu decote, dos dedos a manipularem o êxtase, da boca a conjugar-se nos teus lábios. Só a força dos meus pulsos, do meu corpo contra a pele do teu peito a gemer a madrugada que há de vir. Qual cio, qual pudor, a tudo alheio.
Vem, despe-me a blusa, tira-me as meias devagar com o branco dos teus dentes. Na minha nudez estão todos os pecados. Treme a tua sombra, quando me deito. Aperta-me. Estreita-me mais no teu abraço. Lentamente. Afina o meu corpo pelo ouvido do teu tacto.
Eu prometo que te escalo o ventre. Que te ateio o lume breve dos olhos. Subo por ti de gesto em gesto. A minha boca a desfazer-te o colo, a descobrir o gosto. Arfar como quem respira.
O suor, carne na carne, o sémen. O teu prazer aceso. Depois o grito.
Vá, não páres. Há muito amor por fazer esta noite.
É o regresso, é o silêncio a dar lugar à ternura.
Vanessa Pelerigo
God! E agora, como concilio o sono? Por favor, diga-me que o texto foi escrito há muito, muito, muito tempo.
Continue nesta onda - se conseguir. Fantástico.
God!
Marota.
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