Acabam de tentar telefonar-me aqui para casa, não sei quem, não atendi. Um telefone fixo que toca em vários lados, alertando tudo, o sossego da casa, mas me obriga a sair do sítio onde estou. Quando não é de empresas a quererem vender-me qualquer coisa, das duas uma: ou é alguém que não me conhece (e que portanto desconhece que detesto que me incomodem, sobretudo para o telefone fixo, de longe preferindo o mail e o telemóvel, este se possível em sms, que não faz barulho) ou então é um(a) valente sádico(a). Talvez venha a ler esta postagem e da próxima vez me envie um mail. O tempo é a coisa mais sagrada que temos, o tempo para estar connosco. Isto não é ensimesmamento, adoro falar e conviver, é necessidade absoluta de reflectir, de me dar tempo, ao menos à noite tarde, ao menos aos fins de semana onde anda tudo numa correria, para, sentado numa espécie de praia cega, de onde se não vê ainda o mar, esperar até que acabe por escorregar, eventualmente, uma pequena primeira onda, que venha molhar os pés. Essa chamada, sim, é bem-vinda, reconforta, mesmo quando a água queima ou gela. É uma espécie de telefonema surpreendente, que não espera nada de mim: uma carícia grátis, sem pedir retorno.
Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
domingo, 26 de outubro de 2008
telefonemas
Acabam de tentar telefonar-me aqui para casa, não sei quem, não atendi. Um telefone fixo que toca em vários lados, alertando tudo, o sossego da casa, mas me obriga a sair do sítio onde estou. Quando não é de empresas a quererem vender-me qualquer coisa, das duas uma: ou é alguém que não me conhece (e que portanto desconhece que detesto que me incomodem, sobretudo para o telefone fixo, de longe preferindo o mail e o telemóvel, este se possível em sms, que não faz barulho) ou então é um(a) valente sádico(a). Talvez venha a ler esta postagem e da próxima vez me envie um mail. O tempo é a coisa mais sagrada que temos, o tempo para estar connosco. Isto não é ensimesmamento, adoro falar e conviver, é necessidade absoluta de reflectir, de me dar tempo, ao menos à noite tarde, ao menos aos fins de semana onde anda tudo numa correria, para, sentado numa espécie de praia cega, de onde se não vê ainda o mar, esperar até que acabe por escorregar, eventualmente, uma pequena primeira onda, que venha molhar os pés. Essa chamada, sim, é bem-vinda, reconforta, mesmo quando a água queima ou gela. É uma espécie de telefonema surpreendente, que não espera nada de mim: uma carícia grátis, sem pedir retorno.
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4 comentários:
Gostei muito deste texto. :)
Gracias!
O G. Agamben, figra cimeira do pensamento lúcido, odeia telemóveis. Eu também, mas sujeito-me. Mas o telefone fixo, inclusivamente usado com o maior dos desplantes para nos interromperem a impingir produtos, é como se me picasse o crânio, desconcentra, invade a vida alheia sem vergonha.
Um abraço
Vítor
No comentário anterior, queria dizer figura, claro, onde está a referência a Giorgio Agamben.No livrinho (precioso) dele sobre o dispositivo (edição francesa) até vem na capa um telemóvel.
Eu gosto do telemóvel. E sobretudo do sms! Produz comunicação diferente, necessariamente codificada. É um desafio para a criatividade! E o tm pode sempre pôr-se em silêncio.... Só é usado entre nós e quem nós queremos. É um artefacto subtil.
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