terça-feira, 21 de outubro de 2008

que?




Que quer a mulher?
Quer dançar
Puxando o ardor dos intestinos
Até ao peito
E nesse jeito alçar
Os músculos da canção
Expremer os frutos no ar

Que quer a mulher?
Um disparate que está
Em todos os bichos:
Esticar o véu que cobre
Os exageros, esse suor de pêlos
E bigodes e estrelas de fantasia
Nos sovacos.

Que transporta a mulher?
A lua curva, com uma ponta na vulva
E a outra no ânus;
E nesse incómodo caminha sempre
Esticando o corpo, julgando que este
Lhe pertence.

Que aperta a mulher?
O nosso olhar, que lhe dobra o pé
Esse pé terrível onde começa
A rendição.
A mulher é atravessada por uma cobra,
De alto a baixo.

E se a cobra dança, a mulher dança.
E se a cobra dorme, a mulher suplica.
A mulher quer ser libertada
De um suplício que há milênios se tenta
Saber qual é.

A mulher pousa sobre a poesia,
Sem que que se possa adivinhar
Qual o significado dessa frase,
Quanto mais do movimento!

A mulher posa, pousa, repousa
Sobre a sua ansiedade vertical
De fascinar, torturada desde os intestinos
Pelo frutos do momento.

A mulher está colada aos frutos.
A mulher estica os pássaros
Até à lingerie.
A mulher é uma gaiola em movimento
De pássaros presos.

Expele licra, lantejoulas, reflexos
Estica a paragem até à máxima altura
Do poste, da cobra que a come por dentro
Saindo ora do ânus, ora da boca, ora da vagina

A mulher é um cruzamento de elásticos,
De ligas, uma tessitura de exageros,
Nunca revelando o verdadeiro odor
Da sua intimidade, mesmo quando uma tocha lhe explora
As cavernas profundas do movimento.

A mulher é uma parede em que bate
A face enigmática da pergunta.
A mulher estica a pergunta
Demasiadamente, desalmadamente.

Num disparate de atavios,
Num despropósito de propósitos.
A mulher é anti-natural.
Abusando das simetrias.
Colocando-se à beira
De abismos, de cloacas, do focinho de bichos
Cheios de pêlos e de suor.

A mulher é atravessada verticalmente
Pela cobra, pela parede por onde trepam
As sombras desvairadas, o entornar das córneas.

A mulher quer ser sodomizada
Pelos cornos volantes
Da sua própria suspensão, da sua real
Indecisão.

Num esticar de licras.
Disparatado.

Suplicante.
De quê? Com mil diabos,
De quê?







homenagem a salvador dali

Texto: voj porto out 2008
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Foto: Aya and Ned
Fonte: http://www.louchelab.com/index.html

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