terça-feira, 21 de outubro de 2008

apanhado


O sujeito está hoje apanhado numa rede de "oportunidades" (quando as tem, ou na medida em que se lhe afiguram como tais): deixa-me aproveitar isto, deixa-me ir enquanto é tempo, não posso perder esta "janela de oportunidade", etc. O sujeito está des-localizado de si próprio, desolado na gestão de fantasias e de obrigações, na busca de "alvos", qual rato apanhado na armadinha onde o queijo do experimentador nunca está onde ele, rato, julga que está.
Entre tanta busca de "escapadelas" ou "libertações", o sujeito vai-se cada vez mais enleando na teia. A teia das oportunidades.
Como barata tonta.
Presa fácil da ideologia, quer dizer, totalmente identificado com o que fantasia ser o seu prazer e desígnio, nunca parando para pensar: por que raio hei-de eu ter este desígnio e não outro? que há de realidade e de miragem nesta busca incessante, neste frenesim?
O horizonte do sujeito desejante moderno é um horizonte de oportunidades (quando as tem ou quando se convence que as tem) que apenas lhe trazem mais do mesmo: é um horizonte administrado, gerido, pré-fabricado, e todavia sentido, a cada passo rápido para agarrar, como vital.
Circo infernal do desejo. Como abrir uma brecha, achar uma interrupção, parar este vórtice? Preguiça, quietude, inacção? Não, não, não! Isso é apenas a outra face do mesmo, é o circo ao contrário.
Como diria um francês:
"Il faut chercher ailleurs"

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Citando Jean-Luc Nancy (ele diz a determinada altura aproximadamente isto, na entrevista radiofónica há dias indicada neste blogue) a propósito do seu conceito crucial de inequivalência:
"O reino da mercadoria é o reino da equivalência geral. A "democracia" [tal como a conhecemos, claro] está de certo modo na mesma ordem - é a um horizonte de "equivalência geral" aquele a que nos devemos [aquele que ela nos convida a] entregar.
Ora, na democracia o que devíamos procurar seria uma situação de "inequivalência absoluta" entre um qualquer e qualquer outro. Incomensurabilidade das existências, dos pontos de distância, e dos momentos, das revelações de existência - que é aquilo para o que verdadeiramente é preciso abrir (nos)."

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