Vivemos uma vida inteira mais ou menos satisfeitos, ou pelo menos confiantes, no que pensamos e no modo como pensamos. E esse fundo de estabilidade e de ingénua confiança no senso comum é o que nos permite descansar, distrair-nos, trabalhar nas nossas pesquisas, fazer uma "obra", desenvolver uma profissão, ganhar a vida e ir tendo os lazeres necessários à reconstituição de um certo equilíbrio e bem-estar.
Mas algo subjacente nos diz que tudo isso é pouco, há um sabor a insatisfação, que se vai adiando para mais tarde.
Mas mais tarde já é tarde demais: apercebemo-nos do abismo sob os pés quando nos damos conta de que o sustentáculo do senso comum, do diz que diz, da opinião meio-culta, da intuição pouco sustentada, não só não chega, como nos faz sentir ridículos e impotentes.
Então, aberto esse abismo, procuramos construir a difícil ponte para recuperar o equilíbrio, para ganhar consistência de novo.
Nas margens do nosso esforço, vemos ao longe a cara espantada dos outros, quer dos que sempre perceberam isto (uma minoria muito pequenina), e aplicaram às suas vidas, quer dos que nunca perceberam isto (a larga maioria), e continuam a viver as suas vidas, cantando e rindo, preocupando-se com minudências, fruindo do consumo (por vezes de requintados produtos culturais) e querendo aspirar-nos para essa margem.
O construtor de pontes sente-se frágil. Mas não tem outro caminho senão tentar chegar ao outro lado, cobrir o abismo.
Nesta reflexão a ideia de "perceber" tem mais a ver com a questão da intuição e da capacidade (vontade) de superar uma ideologia alienante, com uma irrequietude criativa, se quisermos, do que com o que normalmente se chama a inteligência. Não estou a "chamar estúpido" a ninguém, muito menos à maioria das pessoas. Os deuses me livrem de tal!
Problema de temperamento, de energia, de saúde, de maior ou menor capacidade de resistência ao tsunami do senso-comum e do modo de vida hedonista/individualista/acomodado, para o qual todos tendemos. Só isso.
Mas algo subjacente nos diz que tudo isso é pouco, há um sabor a insatisfação, que se vai adiando para mais tarde.
Mas mais tarde já é tarde demais: apercebemo-nos do abismo sob os pés quando nos damos conta de que o sustentáculo do senso comum, do diz que diz, da opinião meio-culta, da intuição pouco sustentada, não só não chega, como nos faz sentir ridículos e impotentes.
Então, aberto esse abismo, procuramos construir a difícil ponte para recuperar o equilíbrio, para ganhar consistência de novo.
Nas margens do nosso esforço, vemos ao longe a cara espantada dos outros, quer dos que sempre perceberam isto (uma minoria muito pequenina), e aplicaram às suas vidas, quer dos que nunca perceberam isto (a larga maioria), e continuam a viver as suas vidas, cantando e rindo, preocupando-se com minudências, fruindo do consumo (por vezes de requintados produtos culturais) e querendo aspirar-nos para essa margem.
O construtor de pontes sente-se frágil. Mas não tem outro caminho senão tentar chegar ao outro lado, cobrir o abismo.
Nesta reflexão a ideia de "perceber" tem mais a ver com a questão da intuição e da capacidade (vontade) de superar uma ideologia alienante, com uma irrequietude criativa, se quisermos, do que com o que normalmente se chama a inteligência. Não estou a "chamar estúpido" a ninguém, muito menos à maioria das pessoas. Os deuses me livrem de tal!
Problema de temperamento, de energia, de saúde, de maior ou menor capacidade de resistência ao tsunami do senso-comum e do modo de vida hedonista/individualista/acomodado, para o qual todos tendemos. Só isso.
Foto: Aya and Ned
Source: http://www.louchelab.com/index.html
(reprod. auth.)
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