as manhãs às vezes começam ao contrário, como se fossem noites atrasadas./
a cama é então um lugar de conforto e de martírio, confundidos no mesmo corpo,/
na mesma penumbra.
há um desalinho no passado e no futuro.
e no presente as pernas cruzam-se sem se encontrarem./
os lençóis suam.
um peso cai das roupas estendidas,
dos dias anteriores,
da opacidade das janelas,
onde
não se roçam pombas,
nem abrem candeeiros.
apenas fragmentos se erguem acima do colchão
à procura.
mas o dia também por vezes limpa,
faz brilhar as roupas interiores,
o seu négligé,
à medida que vai crescendo.
algo vem para a frente.
há uma nitidez
mesmo por detrás das telas.
e as próprias sombras
são promessas, travejamentos
do que vem aí.
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Fotos: Bill Durgin
Fonte (rep. aut.): http://billdurgin.com/
Agradeço a este e outros grandes fotógrafos a possibilidade que me têm dado de enriquecer este blogue e a minha imaginação com as suas imagens, criando a atmosfera necessária à produção poética, sem que esta pretenda ser uma ilustração das imagens, ou as imagens uma "legenda" do texto. Trata-se, sim, de tentar dialogar entre fantasias, ilusões, sonhos - hipóteses de imaginário(s).
Texto: voj out. 2008 porto
1 comentário:
professor.gostei muito.
abraço
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