todos temos essa figura, a sombra incómoda. o homem chato que nos persegue.
e leva muitos anos até nos apercebermos da sua presença, como a da mosca que entrou pela frincha. está obcecado pela nossa pessoa, e nem sequer é um diamante, mulher ou cavalo.
é possivelmente um simples pobre homem, que de vez em quando pousa. sobre os braços, sobre a mesa, sobre a nossa própria comida, entre as almofadas.
não tem rigorosamente nada para dizer, ou fazer.
e por isso chega, acerca-se, invade, como puro vazio, sem pretexto. é o interruptor, o que de facto interrompe, muda o sentido da nossa atenção, deixa um muco sobre a superfície lisa da consciência.
e tal como a mosca, escapa sempre ao nosso movimento súbito de o atingir com um pedaço de jornal já lido. ou então fica de pernas para o ar, em aparente agonia.
mas reaparece passadas semanas, ou meses, ou anos, ou mesmo apenas alguns minutos, numa insistência sem limites.
parece repetir: ainda estou aqui. ainda estou aqui.
não quero nada, quero apenas interromper, aparecer, como a figura de que te não libertas, o Grande Maçador.
e explode então numa gargalhada que nos dá a ver o seu crânio morto. descomposto, como um animal de talho pendurado, uma figura de francis bacon.
e recompõe-se, metamorfoseia-se, muda constantemente de figura para parecer igual, para se repetir a si mesmo.
é um cavalo vazio, um guerreiro de plástico, um tigre morto, um placard apunhalado, um tronco alto seco, mas mesmo assim pousa sempre.
interrompe.
desafiando as figuras do desencanto e da miséria, desafiando mesmo os vivos e os mortos.
está entre, é uma entretela que mói.
e assim, mesmo quando não aparece, está sempre aqui.
_____________
Foto Aya and Ned
http://www.louchelab.com/index.html
e leva muitos anos até nos apercebermos da sua presença, como a da mosca que entrou pela frincha. está obcecado pela nossa pessoa, e nem sequer é um diamante, mulher ou cavalo.
é possivelmente um simples pobre homem, que de vez em quando pousa. sobre os braços, sobre a mesa, sobre a nossa própria comida, entre as almofadas.
não tem rigorosamente nada para dizer, ou fazer.
e por isso chega, acerca-se, invade, como puro vazio, sem pretexto. é o interruptor, o que de facto interrompe, muda o sentido da nossa atenção, deixa um muco sobre a superfície lisa da consciência.
e tal como a mosca, escapa sempre ao nosso movimento súbito de o atingir com um pedaço de jornal já lido. ou então fica de pernas para o ar, em aparente agonia.
mas reaparece passadas semanas, ou meses, ou anos, ou mesmo apenas alguns minutos, numa insistência sem limites.
parece repetir: ainda estou aqui. ainda estou aqui.
não quero nada, quero apenas interromper, aparecer, como a figura de que te não libertas, o Grande Maçador.
e explode então numa gargalhada que nos dá a ver o seu crânio morto. descomposto, como um animal de talho pendurado, uma figura de francis bacon.
e recompõe-se, metamorfoseia-se, muda constantemente de figura para parecer igual, para se repetir a si mesmo.
é um cavalo vazio, um guerreiro de plástico, um tigre morto, um placard apunhalado, um tronco alto seco, mas mesmo assim pousa sempre.
interrompe.
desafiando as figuras do desencanto e da miséria, desafiando mesmo os vivos e os mortos.
está entre, é uma entretela que mói.
e assim, mesmo quando não aparece, está sempre aqui.
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