quinta-feira, 30 de outubro de 2008

finalmente


mar.
sem atrito.
música que se desenvolve
interminavelmente.

e em que cada fim
é sempre uma dobra,
um recomeço.

mãe. mão. macia.
carícia não apenas
de tudo o que rodeia
o ser;

mas sobretudo
carícia que vem de dentro do ser,
que o funde consigo mesmo.

pele que se estende
pelas dunas,
num abraço sempre desdobrado
noutro braço, noutro ventre,
noutro sulco

onde se deita algo
de muito fundo,
de muito essencial.

mar, de cujas bermas
se abre sempre outro mar, e
outro.

onde nunca se cansam
oa lampejos da exaltação,
a doçura desdobrada noutra
ainda maior, e inesperada,
e reconfortante

tacto
de todo o mundo como corpo
de todo o corpo como mundo

felicidade antes
da palavra, da sensação,
do sentimento.

acontecimento antes
da sua inscrição.
uma simples ondulação de areia,
e já é demais.

uma erva. uma forma de mamilo
saindo da cor. um estilhaçamento
dos órgãos no espaço,
planetas, estrelas, cometas,
santuário.

regresso. regresso a algo
há tanto, tanto tempo esquecido,
a algo antes da memória possível,
e impossível.
atravessamento sob o lintel
para um dentro que é fora, exposto,

exposto por excelência!

cosmos,
a palavra redobra-se sobre si mesma,
faz-se nódulo,
e este desvanece-se

na pureza total.
na explosão dos brilhos.

nas longas, infinitas
línguas esticadas,

com todas as suas papilas
flutuando como ervas
aquáticas.

mar!
mãe. mesa, tão macia,
cama que estende a sua colcha
e a estica nos quatro pontos
cardeais.

finalmente!
















fotos (merzouga, marrocos, setembro 2008) e texto (porto, outubro 2008) VOJ

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