segunda-feira, 22 de setembro de 2008

que lado



Diz-me para que lado
O meu rosto se vira.

Pois vejo mesas, altares erectos
Entre renques infinitos de flores.

E o seu odor forte
Desnorteia-me, enrola os braços
Da sintaxe num emaranho de lianas.

Diz-me se o que vejo é verdade,
Se estas raízes, estes ramos são
O meu corpo.

Pois seja para que lado me volte
O que vejo são tapetes de flores,
Árvores que largaram a raiz
E agora voam no ar como corpos soltos

Altares arrastando uma cabeleira verde
Enormes pairando sobre a minha cabeça
O meu nariz explodindo em narinas
Por onde corre uma seiva verde

Snifo esta realidade tão irreal meu amor
Com a esperança de que ampares
A minha descida

Vejo corredores ao longe
Cheios de mesas postas para a poesia
Arder sobre elas como animal
Sacrificado

Aras do silêncio, não daquele de que já falaram
Todos os poemas:
Mas um silêncio específico
Deste texto, deste lugar, desta desorientação

Desta embriaguez de linhas
Que se me enrolam nos passos do texto
E o vão tecendo em lenho e cinza, em seiva
E verde,

Tão sem sentido, tão inesperadamente.

Por isso diz-me, vês o mesmo que eu,
Olhas na mesma direcção,
Em que lugar estamos,
Que aparição é esta aqui

Que fazem os altares com as flores
Que fazem os ramos descaídos e viçosos
Que fazem as folhas, que composição
Cheia de pássaros invisíveis é esta,

Que me embriaga, que me excita, que me transporta
Progressigamente para o solo,
O solo do céu, o solo alto,
Onde navegam o passado, o presente e o futuro
Cada um em sua cor, em seu cesto
De flores, em sua ara erecta.






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fotos e texto voj 2008