achas que conseguimos
redescobri-lo sob estas linhas;
achas que é pela cor,
tracejados pela sombra,
que lá chegamos;
achas que pela textura da terra
assim amassada,
ainda é possível;
sentes as chapadas de luz
as lanças de sombra
unindo-nos os rostos
numa só linha;
delírio da pintura
sobre a parede do dia,
ou algo se passa aqui
ao nível do corpo,
de uma ventoinha
que agita o ventre?
é pela sede que as nossas bocas
se aproximam,
ou pelo sabor acre, castanho claro,
da saliva?
é pelo odor das canas?
para onde sobe ele?
as sombras projectam
umbigos paralelos
que querem colar-se.
algo se passa aqui
ao nível da cor creme,
desta massa de onde saem
as mãos que a trabalharam
e mexe em nós como um relógio
único,
como um murmúrio
de água ao longe.
e algo rola para mim
como um seixo liso, liso,
com uma textura que entontece;
há um movimento que cinta
as coxas. as nádegas,
que empurra o tempo.
e de repente, neste ermo,
mil baterias tocam em uníssono.
são os tambores que entrelaçam as canas.
é a argila que sai da boca e amassa as casas
é a saliva que sai pela porta.
és tu e eu, imagina.
voj texto (porto) e foto marrocos ait ben haddou 2008
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