sexta-feira, 19 de setembro de 2008

achas?


achas que conseguimos
redescobri-lo sob estas linhas;

achas que é pela cor,
tracejados pela sombra,
que lá chegamos;

achas que pela textura da terra
assim amassada, 
ainda é possível;

sentes as chapadas de luz
as lanças de sombra
unindo-nos os rostos
numa só linha;

delírio da pintura
sobre a parede do dia,
ou algo se passa aqui
ao nível do corpo,

de uma ventoinha
que agita o ventre?

é pela sede que as nossas bocas
se aproximam,
ou pelo sabor acre, castanho claro,
da saliva?

é pelo odor das canas?
para onde sobe ele?

as sombras projectam
umbigos paralelos
que querem colar-se.

algo se passa aqui
ao nível da cor creme,
desta massa de onde saem
as mãos que a trabalharam

e mexe em nós como um relógio
único,
como um murmúrio
de água ao longe.

e algo rola para mim
como um seixo liso, liso,
com uma textura que entontece;

há um movimento que cinta
as coxas. as nádegas,
que empurra o tempo.

e de repente, neste ermo,
mil baterias tocam em uníssono.

são os tambores que entrelaçam as canas.
é a argila que sai da boca e amassa as casas
é a saliva que sai pela porta.

és tu e eu, imagina.












voj texto (porto) e foto marrocos ait ben haddou 2008














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