Lá fora, cá dentro.
Que há de mais antigo?
E sempre este movimento:
Deambular.
Por fora, por dentro.
Partir, regressar, e sobretudo
Estar entre
Uma porta e outra,
Um pátio e outro,
Traçando linhas com o lápis do corpo
No caderno da atmosfera.
As familiares árvores.
Onde os frutos crescem sem alarde: o ventre.
Saudade da mãe que se não teve.
Saudade do claustro, do pai, que não veio
Preencher o vão, por cima.
Deambulação constante.
Condição do ser humano,
Da sua dignidade.
O seu total abandono.
A sua procura, desesperada primeiro,
E depois pouco a pouco já desencantada,
Sabendo que o horto está de cá da porta,
Sabendo que o ventre, e o céu, e o poço, e a coluna
São estas pobres mãos que os transportam e fazem.
Conciliação do desejo
Com a realidade de todos os dias.
A sua imponderabilidade.
Tecendo com alegria, com bonomia
O próprio sudário.
Fazendo votos para desaparecer um dia
Num destes quartos, vendo o horto
Florescer no centro do teu sorriso,
Como num esplendor de crepúsculo,
Pedindo-te perdão pelo egoísmo
De partir primeiro.
Custa muito esta despedida,
Mas não é verdade que nos estamos a despedir
Desde que nos conhecemos,
E na nossa ignorância
Nos metemos na mesma escuridão,
Enquanto lá fora, silenciosamente,
Clandestinamente,
As laranjas passavam do verde ao vermelho?
voj porto (texto) e marrocos (fotos) 2008
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