Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
domingo, 28 de setembro de 2008
por toda a terra
Aproximar-me das pequenas coisas.
Aproximar-me do solo,
E do que aí jaz
Humildemente
E do que aí sem respeito
Pisamos e partimos.
Indiferentes à beleza do que jaz
No solo
E se espalha por toda a terra.
Para me aproximar,
Para me ajoelhar
Para concentrar a minha atenção
Sobre o que normalmente piso,
Fui arqueólogo.
Não quis descobrir nada
Que já se não visse ou pressentisse.
Estátuas, as faces coradas do passado
Estão em todas as áleas,
E os amantes de bronze enlaçaram-se
Para a eternidade.
Mas as folhas que vão desaparecer de hoje
Para amanhã, quando eu já não passar aqui,
Quem cuida delas, quem lhes presta
Homenagem?
Foi para o caminho mais difícil,
Não das coisas visíveis e palpáveis
Que excitam os mortais,
Mas dos encontros de quem se deita
No solo, e espera,
Que me debrucei.
Miseráveis, infelizes
Os que passam nas áleas e não sabem
O sabor a morte e a nostalgia
Que atapeta os caminhos
E sacraliza
As plantas dos pés, as solas desgastadas
Dos vulgares sapatos!
Os que não vêem nada de perto
Não se debruçam, não se ajoelham
Não se maravilham
- Não com as grandes magnólias voadoras
Ou os tubos dos órgãos altos:
Mas com estas pinturas e esculturas do chão
Que constantemente pisamos
Sem qualquer consideração.
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fotos (serralves) e texto voj setembro 2008
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