terça-feira, 16 de setembro de 2008

berbere


Aqui todas as cores
Se transformam.
Todas as coisas se diluem
Umas nas outras,
No ar
Como folhas separadas.

O vermelho não é bem vermelho.
O teu olhar não é bem um olhar,
Não sei de onde mira e para onde mira.

Não sei se és homem ou mulher,
Se criança ou adulto,
Mas sei que essas distinções
Se perderam no ar
Como folhas velhas,
Como risos loucos.

Como uma bomba de gasolina
No meio de uma auto-estrada
Do deserto
Onde não param carros

Aqui nos des-
-encontramos.
Unidos pelo sangue, pelo sangue de seres
Aqui lançados até o sangue secar.

Como um revolver pousado
No chão, e um chinelo deixado
No último assalto
Pelos que se puseram em fuga.

Não sei quem está mais desamparado,
Nesta impossibilidade de te fixar.
Um silêncio redoma-nos.
Perdemos a boca,
Para adquirir esta humanidade
Que parece ter a areia,
A absoluta expectativa
Que abraça desesperada
A mais absoluta esperança.

Encontro-te no meio do sol
Como uma serpente que trepa
Por mim acima, e que me pode trazer
A morte ou a vida:
E esse movimento dilui as distinções,

Atira as pautas do medo
Para o ar
Como roupas inúteis,
Como lençóis cegos.

Na absoluta ignorância do momento seguinte
Prossigo, engolindo no fundo da garganta
Esta sensação de ser o teu último explorador.

Convertendo-te em imagem
Para sobre ela dissertar
Sobre o Desamparo,

Oh suprema, obscena colonização.

Ficas para trás da estrada
Cada vez mais confundido(a) com o pó
Com a dissolução das cores

Enquanto os sentidos se instalam sobre as mesetas
Atirados para o ar como roupa interior
Livre, louca, azul e vermelha.

Os textos servem para isto:
Para fazer luto da tua partida,
Para te passar de um Tu
Para um(a) Ele(a)
E assim te poder deixar na estrada

Como uma bomba de gasolina inútil
Ou de qualquer modo tornada já passado
No meio da estrada do deserto.



foto e texto voj 2008

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