quarta-feira, 17 de setembro de 2008

falas



Falas-me dos rios de lava

Que circulam pelo meio da noite
Debaixo da terra

Quando eu só quero
O teu palato

Falas-me do princípio e do fim
Quando era e será
De novo luz;

Mas eu só quero
O fundo do fogo,
A tua garganta,
O local onde finalmente
Se asfixia;

Falas-me de viagens e sítios
Do trajecto que levam os rios
De lava;
Quando eu só queria lavar
A língua na tua saliva,
Depositar num nível profundo
Este sarro da noite, este preto e branco
Que me mancha as fotografias.

Falas-me de sentimentos e emoções
Quando eu só quero erguer-te
Por forma a poder beber-te
Desde a fonte

De onde escorre a água
Cheia de sais de prata e de essências doces
Do teu interior:
Abrir a boca a essa vegetação,
A esses sabores ácidos.

Revelar-te
Não na tua verdade última
Naquilo que não sabes que és;

Eu apenas quero mergulhar
Num vestido de prata
Que percorra a noite do dia
Essa que traz a lava grossa
À liquidez da superfície

Eu só quero beber os sucos
Dos teus lábios, ver os reflexos
Por dentro dos teus olhos
Ouvir as gotas que aí correm

E dizer-te como dantes, como dantes
Amor, amor, amor, amor.

Palavras de quartzo.
Cintilações fotográficas.
Taças na minha boca.


texto (porto) e foto (marrocos) voj 2008