O meu maior receio quando comunico: o simplismo.
O maior perigo que espreita um universitário: o academismo - o julgar que por ser muito considerado no seu campo isso tem, por si mesmo, todo o valor. O valor está cada vez mais nos links, nas inter-relações, nas conexões.
A fácil queda do académico que não quer ser académico: começar a falar de muita coisa de que não sabe o suficiente para chegar ao ponto de estabelecer links entre as coisas. Então transforma-se muma espécie de jornalista ou do homem-cápsula de que fala Marc Guillaume: sabe sempre dizer a coisa certa no momento certo, dando toda a aparência de não ser aquilo que de facto é: uma espécie de soufflé.
O tipo soufflé tem hoje em dia recompensa fácil: passa nos media e convence os gestores desejosos de fazer coisas que dêem nas vistas com tipos que não compliquem muito.
Os espertos passam por inteligentes.
São eficazes, têm boa aparência, são blasés.
Mas esta corrida ao êxito tem os seus aspectos carnavalescos e não é sustentável - pelo que pagaremos de novo o preço disso: a aliança dos tecnocratas com os blasés, uns e outros à moda, uns e outros praticamente monopolizando os recursos existentes e o espaço público.
Atenção que há tecnocratas extremamente sofisticados: passam por vezes por cientistas, ou auto-designam-se assim. Vivem num sistema auto-referencial, estão próximos dos poderes, reforçam continuamente posições simbólicas estabelecendo links entre vários lugares de exposição pública e de acesso ao poder/saber que ocupam e onde tendem a ser hegemónicos, ou seja, a preencher inteiramente a economia da visibilidade e do espaço de manobra na acção prática. Claro que tendem também para a carnavalização, mas não interiorizaram ainda bem isso. É o que nos vale.
Evidentemente, este blog não está imune a alguns dos perigos apontados...por isso os comentários dos seus leitores são importantes, transformando um monólogo numa comunidade. Quem emite mensagens sem "contraditório" arrisca-se a cair no delírio. Qualquer discurso procura efeitos e é tudo menos inocente.
2 comentários:
É mais do que óbvio que o comentário deixa transparecer a inveja relativamente a quem é objecto de crítica (os blasé).
Pretende-se espaço que a seguir critica-se. É o flirt com os media para depois dizer que não presta.
Faz-me lembrar um amigo que várias vezes criticava a industria da moda e as modelos, sendo óbvia a sua profunda atracção por tudo aquilo. Uma resposta à frustração em tom de crítica.
A "intlectualidade" não percebe o ridículo do discurso da "inteligenzia".
Já viu como no seu blog aparece como a própria caricatura de um Homem-cápsula, falando dos mais variados temas, com uma absoluta profundidade.
A inveja é um sentimento feio que vai bem com o egoísmo (e só numa sociedade capitalista de valores individualistas é que pode vir afirmar que todo o ser-humano é egoísta e individualista - é a cereja pós-moderna sobre o bolo do capital).
Continuamos à espera de propostas que possam efectivamente contribuir para a comunidade e que não sirvam apenas o egoísmo de alguns. Trabalhar de um modo egoísta, num esforço intelectual (individual), está de acordo com quem possui posses para tal (a cultura de elite). Infelizmente uma cultura de elite rima mal com o bem de todos.
Ninguém tolera o egoísmo (e ainda bem).
Creio que tentou ler na minha postagem o que não está lá... o velho cliché. Não pertenço à "intelectualidade" nem sei o que isso seja. Não faço parte de qualquer elite... Tento também não ser invejoso, nem, no blog, falar de tudo. A amplitude de temas (e até de línguas utilizadas, até onde sei e posso) do meu blog tem mais a ver com notícias que podem ser úteis do que com textos originais meus. Esses são relativamente circunscritos. Mas é óbvio que um blog não é um artigo científico... E na própria postagem previno: "Evidentemente, este blog não está imune a alguns dos perigos apontados...por isso os comentários dos seus leitores são importantes, transformando um monólogo numa comunidade. Quem emite mensagens sem "contraditório" arrisca-se a cair no delírio. Qualquer discurso procura efeitos e é tudo menos inocente."
Por isso de qualquer modo obrigado.É sempre bom ouvir alguém, mesmo que pelo nome não esteja a ver quem é... um contributo para a tal comunidade. E não anseio por que as pessoas me enviem elogios ou manifestações de acordo. Era interessante um debate aprofundado entre várias pessoas, isso sim.
Um bom resto de fim de semana. Vou continuar a ler o Zizek...aprendendo mais alguma coisa enquanto há vida e saúde.
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