sábado, 26 de maio de 2007

vento


no atlântico norte,

onde as aves pousam como as ilhas,
com as asas ainda abertas
pelo vôo;

onde não há ninguém,

só a nudez dos telhados de turfa,
dos líquenes sobre os afloramentos,

o pensamento torna-se mais nítido
na divisão das coisas;

dá a sensação, ilusória talvez,
de que o vento e o frio varreram o tempo

e a sujidade das pessoas,

e de que o riso se pode abrir de novo
à gargalhada antiga,
nas faces lavadas do amor.

aí, no norte,
onde as aves são irreconhecíveis
na sua língua local,
mas fascinantes, súbitas,

o texto anda frequentemente a pé,
orienta-se entre o ruído dos nevoeiros,
acerca-se dos lagos inverosímeis,
espelha-se neles,

com uma crença
que há muito julgava
impossível;

e lava todos os seus interstícios,

reencontra os cheiros
naturais do corpo

sadio, leve, pronto a partir
para outra ilha.




Foto: Jim Furness
reprod. aut.
Fonte: http://www.jfphotography.net/

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