segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

âmbar

quando a libelinha se aproxima
(ampliada mil vezes)
do botão inchado da flor,

do seu rosáceo veludo,

não terá isso algo a ver
com os lábios da jovem
quando carinhosamente se encaminham
para a glande do amado,

ou com o jeito da cobra
que se acerca da presa
num silêncio
muito aberto,

adivinhando-se que a vai
integrar em si,

mesclando-a
pouco a pouco
no amarelo fixo,
compenetrado,
dos seus olhos,

no amarelo místico
do seu corpo todo?

e essa cor de âmbar,
esse indecifrado
exposto,

não será o sítio
de onde nos olha,
fossilizado,
o cerne do mundo?

nisso talvez resida
o princípio geral
da desgustação,
que qualquer um
pode ver
à vista desarmada.

tudo se encaixa
e se acerca
mutuamente,

com uma luxúria
anterior à queda;

pois até o brilhante abraço
do amor e da morte

se encontram presos,
no enlace eterno,

prévio
ao próprio silêncio,

e nele habitam

o interior da jóia.


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