Um amigo meu referiu-me, em carta, que achava estranha, ou excessiva, uma afirmação minha segundo a qual é de certo modo inconcebível, nos tempos que correm, uma universidade ficar muito longe de um pólo de transporte aéreo... a minha afirmação tinha mais ou menos esse sentido. Isto, dada a frequência com que se viaja, com que se circula, e tendo em conta que o avião é hoje o meio de transporte privilegiado entre países. Por outro lado, o próprio sentido da universidade é a universalidade, o estar em contacto com o mundo idealmente aberto do saber e da aprendizagem, que também vão a grande velocidade... de modo que, no sentido literal, como no do conhecimento, somos todos nómadas.
Bem, em Portugal não teríamos de nos queixar muito, porque o país é tão pequeno, que todas as universidades, mesmo as do interior, não estão tão isoladas assim... há até, salvo erro, uma tendência, que é para muitos focos de excelência científica contactarem mais com os seus pares no estrangeiro, do que cá dentro, onde ainda há poucos especialistas em muitos domínios, pouca massa crítica, apesar das pessoas e dos centros de grande qualidade.
Mas é evidente que este é um problema global de planeamento do país, do seu ordenamento geral, em termos territoriais, económicos, estratégicos. Se o aeroporto do Porto é agora um dos melhores, para não dizer o melhor, da Europa, já o de Lisboa, na Portela, está na confrangedora situação de se localizar... praticamente no centro da cidade! Os aviões, ao aterrar, quase roçam os telhados das casas próximas (zonas populosas), mas também a cidade universitária, onde está o nosso arquivo nacional, etc. Mais uma originalidade lusa?!...
Um dia o avião em que eu ia para os Estados Unidos, na Portela, estava para descolar, em fila de espera, e fez umas deambulações na pista. Das janelas do aparelho viam-se casas, enfim, a vida quotidiana mesmo ao lado. E um norte-americano que ia atrás de mim comentou para a mulher, certamente para desconstrair daqueles momentos sempre tensos: "Repara como os portugueses são curiosos... mesmo no momento da partida ainda nos fornecem um último city seeing".
Um novo aeroporto para o país e o TGV são obviamente prioridades nacionais, decisões estratégicas fundamentais para um país periférico como o nosso, onde o isolamento, como europeus, ainda por cima acentuado pela ditadura, foi sempre um problema altamente condicionante. Eu sei que estas questões são muito complexas, envolvem diversíssimas variáveis, mas estou de acordo com as decisões do actual governo.
Dizem os jornais de hoje (transcrevo de "O Correio da Manhã"):
"Os grandes projectos de infra-estruturas nacionais, onde se incluem a Ota e o TGV, têm um custo total previsto de 11,4 mil milhões de euros, enquanto a Educação e Qualificação têm um orçamento que não chega aos nove mil milhões de euros. Os números constam do Quadro Estratégico de Referência Nacional (QREN) para os próximos sete anos, ontem apresentado, em Lisboa, pelo primeiro-ministro."
Não estou dentro dos dossiers para discutir o assunto, mas é óbvio que a questão das ligações nacionais e internacionais do país é absolutamente vital, sejam elas rodoviárias, ferroviárias, aéreas ou marítimas.
País pequeno e periférico, o nosso problema (embora hoje em dia todos os problemas estejam articulados) é a qualificação das pessoas e a sua circulação rápida e em condições de conforto (com bons interfaces entre os vários sistemas de transportes), para não falar das mercadorias.
Por isso, e ao contrário do que aquele meu amigo parecia pensar, aeroportos e universidades são duas coisas que conjugam bem. São ambos nós da imensa rede de ligações, reais e virtuais, de que hoje se tece a vida e o desenvolvimento dos países. Qualquer que seja a nossa opção político-ideológica, temos de ter os pés assentes na terra, o que significa anteciparmo-nos e levantar voo, ter ambição, abandonar as visões pequeninas do "jardim à beira do mar plantado", de ressonância salazarista. Ou só somos grandiosos quando espalhamos pelo país grandes estádios de futebol?
Bem, em Portugal não teríamos de nos queixar muito, porque o país é tão pequeno, que todas as universidades, mesmo as do interior, não estão tão isoladas assim... há até, salvo erro, uma tendência, que é para muitos focos de excelência científica contactarem mais com os seus pares no estrangeiro, do que cá dentro, onde ainda há poucos especialistas em muitos domínios, pouca massa crítica, apesar das pessoas e dos centros de grande qualidade.
Mas é evidente que este é um problema global de planeamento do país, do seu ordenamento geral, em termos territoriais, económicos, estratégicos. Se o aeroporto do Porto é agora um dos melhores, para não dizer o melhor, da Europa, já o de Lisboa, na Portela, está na confrangedora situação de se localizar... praticamente no centro da cidade! Os aviões, ao aterrar, quase roçam os telhados das casas próximas (zonas populosas), mas também a cidade universitária, onde está o nosso arquivo nacional, etc. Mais uma originalidade lusa?!...
Um dia o avião em que eu ia para os Estados Unidos, na Portela, estava para descolar, em fila de espera, e fez umas deambulações na pista. Das janelas do aparelho viam-se casas, enfim, a vida quotidiana mesmo ao lado. E um norte-americano que ia atrás de mim comentou para a mulher, certamente para desconstrair daqueles momentos sempre tensos: "Repara como os portugueses são curiosos... mesmo no momento da partida ainda nos fornecem um último city seeing".
Um novo aeroporto para o país e o TGV são obviamente prioridades nacionais, decisões estratégicas fundamentais para um país periférico como o nosso, onde o isolamento, como europeus, ainda por cima acentuado pela ditadura, foi sempre um problema altamente condicionante. Eu sei que estas questões são muito complexas, envolvem diversíssimas variáveis, mas estou de acordo com as decisões do actual governo.
Dizem os jornais de hoje (transcrevo de "O Correio da Manhã"):
"Os grandes projectos de infra-estruturas nacionais, onde se incluem a Ota e o TGV, têm um custo total previsto de 11,4 mil milhões de euros, enquanto a Educação e Qualificação têm um orçamento que não chega aos nove mil milhões de euros. Os números constam do Quadro Estratégico de Referência Nacional (QREN) para os próximos sete anos, ontem apresentado, em Lisboa, pelo primeiro-ministro."
Não estou dentro dos dossiers para discutir o assunto, mas é óbvio que a questão das ligações nacionais e internacionais do país é absolutamente vital, sejam elas rodoviárias, ferroviárias, aéreas ou marítimas.
País pequeno e periférico, o nosso problema (embora hoje em dia todos os problemas estejam articulados) é a qualificação das pessoas e a sua circulação rápida e em condições de conforto (com bons interfaces entre os vários sistemas de transportes), para não falar das mercadorias.
Por isso, e ao contrário do que aquele meu amigo parecia pensar, aeroportos e universidades são duas coisas que conjugam bem. São ambos nós da imensa rede de ligações, reais e virtuais, de que hoje se tece a vida e o desenvolvimento dos países. Qualquer que seja a nossa opção político-ideológica, temos de ter os pés assentes na terra, o que significa anteciparmo-nos e levantar voo, ter ambição, abandonar as visões pequeninas do "jardim à beira do mar plantado", de ressonância salazarista. Ou só somos grandiosos quando espalhamos pelo país grandes estádios de futebol?
2 comentários:
Tenho uma opinião absolutamente oposta em relação a este post. Neste momento um dos grandes elementos de desenvolvimento do aeroporto do Porto tem sido o trafego gerado pelas Low Cost. As opções pela reconversão de aeroportos militares como Beja, Monte Real ou outros fariam mais por retirar o país da periferia do que mais um elefante (escolham a cor porque os estádios são coloridos) plantado à beira de Lisboa. Seria interessante saber por exemplo qual a aportação que um aeroporto como Stanstead trouxe a Londres.
Veja-se também o caso de Espanha, no qual o aeroporto de Vallodolid foi um dos mais espetaculares exemplos do que as Low Cost podem trazer de benefícios a uma região. É todo um mercado que se cria.
A ideia de um polo gigantesco chamado Lisboa, torna todo o resto do país refém de uma estratégia. Lisboa não é nem será uma plataforma como Madrid por razões várias. Por muito que isso custe aos lisboetas, a sua cidade não é o umbigo do mundo. Nem sequer devia ser o umbigo do País.
Mas a Ota não é em Lisboa, nem só para servir Lisboa... é para conectar com o TGV. Penso...
Mas é óptimo receber discordâncias, estamos fartos do país das consonâncias.
Abraço
Vitor
Até à próxima discordância (do meu colaborador de blogue e catedrático em computadores... tenho de o tratar bem,para ele continuar a ajudar-me... é preciso é saber viver).
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