muitas vezes procurei mesmo ao lado onde estavam as coisas.
levei horas, dias, uma vida buscando, eventualmente até
com algum empenhamento.
sentia as madeiras ranger, o seu odor de antigas árvores,
e o próprio vento chiando entre elas, quando estavam vivas.
mas tocava-lhes, e a sua carícia
era igual à aspereza, ou aveludado tacto, de outras substâncias.
escrevia então sobre as tábuas
certas perguntas, como quem deixa um sinal, um sulco,
e espera que, com o tempo, nessas sombras,
algum acontecimento se produza.
e também ocorria levantar-me, abrir uma luz
na escuridão total, e lá estava ele:
aquele antigo lagarto, verde e amarelo, enorme,
olhando-me de lado, e portanto mostrando-me apenas
metade do seu espanto.
eu apagava a luz, para tentar seguir-lhe o rasto,
orientar-me pelo som das suas escamas no chão,
encontrar, no interior da noite, algum sítio
para onde pudesse dirigir-se,
talvez um local onde as cores se desdobrassem,
onde as pedras preciosas fossem
as suas pegadas.
às vezes, muito tempo passado,
a mesma imagem voltava a afrontar-me,
mas agora em plena luz, com uma tabuleta ao lado,
dizendo em latim o género e a espécie.
e, compendiando estas coisas e outras,
muitas vezes estive ao lado do que interessava,
o arco retesado para apanhar a palavra
cujo contorno definisse exactamente
o que eu queria ver.
com uma granada na palma
de cada mão,
e a antiguidade do geólogo
que traz numa bandeja o globo terrestre
com as suas talhadas de lava,
ou os cristais que o químico sopesa,
olhando-nos com as suas lentes incrédulas
perante a perfeição dos dodecaedros,
a sublime ciência física e natural
em cuja testa gira ainda, roufenho,
o enigma do sistema solar
da minha instrução primária.
copyright voj
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* Granada: Geol. - Silicato. Cristaliza no estado cúbico. Pedra semi-preciosa.
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