Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
sábado, 10 de outubro de 2009
Vertigem (ainda) de Madrid... quase mais perto, ou mais interessante (=num certo sentido, mais acessível) que Lisboa... devido à Ryanair...
Nem sempre é assim... como comprovei há 8 dias no Porto... mas enfim...
O que me interessa fotografar - tomando aqui como cenário o Centro de Arte Reina Sofia - são as pessoas, o que quereria obter seriam os tropismos das pessoas, o seu comportamento particular dentro destes lugares de culto, dentro destes grandes complexos da contemplação que são os museus, mas também as ruas e todos os lugares em geral, na medida em que o mundo se tornou num lugar para ser contemplado e não apenas num espaço onde se realizam "funções" ou "tarefas". Não: as pessoas deambulam, hesitam, dialogam, e há uma corrente de milhões de consciências escondidas em todos os lugares. Eu quero fotografar a impossibilidade de fotografar essas consciências, na medida em que cada uma delas, repousando sobre um magma inconsciente, não se sabe nem se pode saber a si mesma. Está deslocalizada de si. Essa deslocalização em espaços constrangidos (ruas, claustros, corredores, parques, salas, interiores de museus) cria uma tensão muito especial. Assim, vou fotografando as pessoas como meras imagens já mesmo antes da fotografia, de certo modo despudoradamente, porque elas só existem para mim como fotografias, como espectros, boiando no espaço rarefeito da sua fantasmagoria fugaz. É ISSO que me interessa. Cada imagem é a anunciação de uma espiral de ausências ou de indeterminações, de contingências. Deambulando por espaços contingentes, ocasionais, fluidos. São esses vultos esteticizados, sejam eles "obras de arte", edifícios ou "pessoas", que me interessam. Para captar essas imagens me desloco, as imagens tomaram conta do meu "programa de vida". Trata-se de uma inversão total: os lugares e as pessoas que estão nas minhas fotos não são "recordações" de lugares ou de pessoas reais: são algo que nunca existiu, e, se me fosse possível de novo cruzar-me com esses lugares e pessoas (essas imagens, esses espectros), seriam eles a ter o papel de recordações destas fotografias, tornadas agora realidades bem cruas no écrã brilhante do computador, ícones do total vazio que representam.
Ao longe, a serra de Guadarrama, vista do meu quarto de hotel ao entardecer.
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