sexta-feira, 9 de outubro de 2009

vermelho



_____________________________________________________




Ante ti desenrolo os tapetes
Sobre o chão desta manhã clara
E do teu lado esquerdo ponho
Uma estátua, uma estátua ponho

Do teu lado direito! E pelo meio
Brilham os teus lábios na ausência
Desta manhã íntima, estrangeira, sabor
De uma boca nunca antes sentida.

Vê o caminho desenrolado entre as linhas
Da perspectiva: e como elas confluem
Para os buxos erguidos, para os buxos verdes,
Para a antecipação dos passos sobre os degraus...

E no meio, e lá exactamente ao meio
Os teus lábios estão a acontecer na minha boca;
E a manhã desenha uma estátua, um gesto
Para oeste, um gesto para leste ela desenha...

Gestos brancos contra o verde e o azul,
E pelo meio, exactamente como um caminho
Entre os renques da geometria, os teus lábios
Abrindo-se, distendendo-se sobre o meu compasso...

Ah, que fluido interminável, que intensidade
De cores, que tremendo tapete vermelho desenrolado,
Que surpresa de lábios misturados a cada gota
Que calcário de estátuas toma com a sua força

Esta manhã estrangeira, branca, azul, esta manhã
Límpida, nova, disponível, em que os cabelos
Das árvores se eriçam, e pelo meio eu passo
Pelo meio de ti, desenrolo o tapete até ao teu fundo






_____________________________________________________

foto (madrid) e texto (porto): voj out. 2009

1 comentário:

Blogat disse...

Encantador...finjo que é para mim,fingidora que sou, e antecipo meus passos sobre os degraus, em gestos brancos contra o verde e o azul,numa manhã estrangeira em que estrelas piscam no norte e no sul,e elas, apenas elas, e a escuridão.