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Procurei na tua camisa cada botão: mas tinham todos desaparecido para a linha do horizonte, onde se dispunham na horizontal, marcando o espaço que devíamos olhar. Com um botão em cada vista, dirigi-me a ti, vi-te em desalinho, rodando, rodando, rodando, em piruetas, deixando partir botões em todas as direcções: botões dos mamilos, botões das flores, botões da longa camisa inútil, deitada como um fim de tarde sobre o soalho. Tentei conhecer as tuas mãos, tactear os botões que restavam de ti, accionar-te em cada um deles, chamar-te a atenção. E um dia sintonizei-te no meio de um imenso deserto, rodeada de pessoas e plantas até ao horizonte. Pessoas cobertas de botões. Plantas que floresciam em botão. Nesse dia pude finalmente chegar até ti e de ti partir, à procura de uma camisa percorrida por artérias vermelhas que te viessem a aquecer num passado ou futuro indeterminado.
Foto: Ernesto Timor
Site: http://www.ernestotimor.com/
Texto voj porto out. 2009
3 comentários:
Desta vez, fico eu sem palavras...
em que sentido?...
Todos, diante do sentimento justamente provocado.Não fosse esta a intenção de tão provocante texto.
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