quarta-feira, 7 de outubro de 2009

crise teórica da arqueologia: apontamento



Casa del Libro. Madrid. Foto VOJ





A teorização arqueológica em Espanha está muito constrangida por certos parâmetros, como o da crença em paralelos da antropologia cultural, do neo-evolucionionismo, e da vulgata (apresentada como) marxista. Se é certo que, acompanhando a desestabilização geral dos saberes provinda do golpe de "Maio de 68", a crise teórica da arqueologia é notória desde há décadas em toda a parte, em Espanha, país de grande envergadura económica e cultural, a arqueologia não soube ainda perceber a ruptura operada pelo pensamento crítico contemporâneo, com raras excepções, está claro - mas mesmo muito raras. Percorre-se as estantes de livros de arqueologia numa das maiores livrarias de Espanha, a Casa del Libro, na Gran Via, e que se vê? Ou descrições empíricas que têm o seu interesse, é claro (mais houvesse, mas que são os "dados" em si?...), ou obras de etno-arqueologia e de arqueologia da identidade que mostram boa intenção mas horizonte curto, ou livros sobre a origem do Estado sempre na mesma perspectiva pseudo-marxista... ou então manuais práticos, que também, é óbvio, fazem falta. Mas nem um livro que rompa com o status quo, um livro que uma pessoa tenha que comprar!
Refiro-me, evidentemente, à minha esfera de competência, a da chamada pré e proto-hostória. A arqueologia romana e posterior é outro mundo.
Num país onde se traduz (e produz) tanta filosofia, sociologia, antropologia, estudos sobre património, etc, rareiam as obras que de facto incorporem um pensamento irrequieto na arqueologia e de algum modo denunciem, ou exponham, mas não pelo slogan, e antes pela sua própria arquitectura teórica, o impasse interpretativo da arqueologia onde ele se vê melhor - nas "épocas mais recuadas"... é certo que vamos a França e é o mesmo, praticamente (um deserto teórico), e mesmo em Inglaterra uma nova geração de autores não prosseguiu (acho) com todo o vigor a revolução pós-processual que pôs em causa o neo-positivismo e neo-evolucionismo americanos, os quais, em filigrana, ainda estão por detrás de muitas obras que se supõem mais "avançadas"...
Julian Thomas foi um autor que, no Reino Unido, tentou de facto abrir caminhos novos. O seu "Arqueologia e Modernidade" , de 2004 (significativamente não traduzido em Espanha) é uma obra inteligente, uma síntese inspiradora. Estará alguém a seguir o seu caminho, alargando a reflexão para a modernidade tardia? Não descortino, mas pode ser ignorância minha. Se alguém souber, agradeço a informação e a ajuda.

Sem comentários: