segunda-feira, 10 de novembro de 2008

servem


os rios servem
para unir estranhas vidas
ao longo das suas margens

assim como as sombras das árvores
atravessam a estrada sem temor
ao trânsito

quem sabe pois que pontes
se erguem entre margens,
brilhos, sombras, segredos
de idades diferentes,

que corpos de saudade a corrente leva.

que sentimentos a sombra dos pinheiros
atravessa.
que veículo virá a seguir atropelar
o enlevo das árvores.

os troncos que circulam
na corrente, levados não sei
por que vontade: que força
os empurra?

a que manhãs
se abre o peito, para que juventude
se abrem os espigões lenhosos
das pinhas, todas as pontas,
todos os mamilos

em cujo cimo, às vezes,
o sol provoca brilhos?

não sei. as águas correm sobre o seu segredo.
o asfalto é também um rio
que corre de um lado para o outro
da imagem: e as sombras atravessam-no

na esperança da ponte.
no vigor do laço.

e cavalos começam a corrida
pela noite, cavalos que levam a sua brancura
para dizerem em todo o vigor das crinas:

estamos aqui, subimos a corrente,
somos o brilho da foz que chegou à nascente
e aí pousamos o pescoço ofegante,
a espuma da corrida!

as ondas vêm dar a outra manhã,
noutro universo, noutro tempo.

e aí aguarda uma serenidade,
uma temperatura das árvores,
de manhã quando sais, de tarde
quando voltas, e os cavalos trazidos pela corrente
dizem: estamos aqui!

e no verde e nos brilhos se anicham,
entre os olhos celestes,
sobre o recôncavo macio, tão macio,
do mais íntimo repouso,
da mais terna almofada.







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fotos d. m.
texto voj porto novembro 2008

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