terça-feira, 11 de novembro de 2008

como se já









trazes-me flores do campo

trazes-me uma canção lírica
e olhas-me como se não fosse nada

trazes-me a virgem maria
e o sagrado coração de jesus
debaixo de ramos de flores secas
e olhas-me como se não fosse nada

trazes-me outra estação do ano
trazes-me o sol que dá som ao verão
fazes tudo isso num silêncio de plantas
e olhas-me como se não fosse nada

trazes-me uma aproximação,
visitas-me coberta de bolbos espinhosos,
coberta de túlipas macias,

trazes-me isso tudo sobre as saias descidas
e olhas-me como se não fosse nada

crucificas-me às palavras
sufocas-me na minha própria saliva
entonteces-me com o odor da alfazema e do açafrão
fazes-me isso tudo apesar do meu coração
e olhas-me como se fosse nada

trazes para dentro da casa
para dentro da casa negra
os tapetes verdes do verão
e sobre eles o teu corpo subido
como uma igreja
e ainda me olhas como se não fosse nada

estou preso a ti
mesmo antes de chegares,
mesmo quando partes,
e já só retenho

a planta dos teus pés
e o odor forte a flores campestres

- e na verdade já te olho
antecipadamente


como se ainda
não fosse nada.



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Fotos: Tanya Gramatikova

http://photo.net/photodb/folder?folder_id=701388

Tanya Gramatikova Photography (auth. rep.)


Texto: voj 2008 novembro porto

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