domingo, 3 de junho de 2007

Turbo-Folk / Nicolae Guta



Nicolae Guta


Não se conhece o mundo dos Balcãs sem se conhecer o fenómeno Turbo-Folk. Pelas imagens poderão pensar que se trata de um mero fenómeno de música pimba. Estão completamente enganados. Nada nos Balcãs é simples e linear. Aliás os Balcãs e as suas identidades não se resumem simplesmente ao território da ex-Jugoslávia. Na Roménia pude ter contacto próximo com tudo isto.

A Roménia veio a ensinar-me muitas coisas. Mostrou-me a fluidez e a riqueza da identidade humana. Ao mesmo tempo lia o Chris Gosden e as suas propostas sobre o tempo.
Na memória fica-me um mapa cheio de setas representando o intenso movimento de populações pelo território da Roménia. As ditas "invasões bárbaras". Tenho a impressão que essa profunda fluidez e movimentação não se resume a um episódio histórico pós-Império Romano. Provavelmente os Impérios e as nações, com a sua aparente estabilidade territorial serão a excepção e não a regra.

Na Roménia a identidade está sempre presente e não se refere apenas a nacionalismos. Não se trata algo exclusivo deste país. É uma riqueza cultural enorme que atravessa regiões
Não se tratam de tesouros, ou obras-primas. Trata-se de pluralidade e diferença. Não no modo politicamente correcto, onde todos vivem em harmonia, mas sim na conflitualidade.

O Turbo-folk foi objecto de censura durante a guerra dos Balcãs. Não o foi por uma matéria de gosto. Como disse, nada nos Balcãs é simples.
Kusturica é apenas uma face pop que se tornou consumo de elites na Europa Ocidental. O próprio modo de entender este cinema é diferente consoante a Europa onde se está. A recente Palma de Ouro atribuída a uma produção romena, vem a demonstrar a força e a riqueza duma Europa que emerge lentamente. Faz também pensar sobre o que é "cultura de elite".
Por cá ainda pensamos que estamos a ver o "Brutti, sporchi e cattivi" do Scola, mas só quem não conhece é que não percebe as profundas diferenças que vão da barraca da periferia romana até às barracas da periferia de Cluj. Nestas até a cor do telhado pode ser uma mensagem de identidade.

Aprendi muito nestes dias. Mas apenas o posso expressar no meu silêncio.
Fiquemos então com o "sofisticado" Niculae Guta.

13 comentários:

Vitor Oliveira Jorge disse...

Respeito os gostos do meu colaborador de blog, mas...francamente!

Gonçalo Leite Velho disse...

Há questões que não se resumem a gostos, mas...

Vitor Oliveira Jorge disse...

Je n' aime pas cette musique et ce video - ça fait contraste avec les choses que j' ai publié aujourd'hui!

I do not like this video at all ... sorry! This has nothing to do with me and the things that I have just posted today.

Anónimo disse...

It doesn't matter what you posted today Vitor, look how different these women are from Shakira.... Do you have something to say, meaningfull their identity?

Gonçalo Leite Velho disse...

This post is exactly regarding issues of identity that relate to Turbo-folk.
Vitor only understood the aesthetic side of it. But (as I say in Portuguese in the post) the Turbo Folk is not merely a question of aesthetic. That is why it was banned from certain countries.
There are more in certain things than the mere superficial image might transmit.
To travel in Romenia as well as in the Balkans is a experience that through us into this subjects and make us think.

Vitor Oliveira Jorge disse...

I have nothing to add to my previous comments.

Anónimo disse...

If you want to understand anything about authentic Balkan music start here: http://www.youtube.com/watch?v=_MsWl7eCs_E
Fanfare Ciocarlia "Manea Cu Voca"

I love the bit in Tokyo...
Dili dili lala

Gonçalo Leite Velho disse...

Actually the Fanfara acted some recent time in Portugal (namly in Porto).
But the Fanfara is already another thing ;) It's not Turbo-Folk. It's projection become global also with the help of Kustiritsa breacking through.
Both have Romani influence, but the Turbo-Folk was associated with a strong Serbian nationalism, while Fanfara is linked with Romani tout-court.
It's like this two characters of "White Cat, Black Cat", one more Serbian, the other more Romani, one selling guns...

Anónimo disse...

Não sei o que é que este rapaz está a dizer ao cantar. Lá que é diferente do que se vê e ouve neste blogue..lá isso é! Como boa ocidental.. o que é diferente... o que não entendo bem... por vezes.. atrai-me. É "genético". Um pouco de exotismo do leste da Europa..assim.. ..num primeiro olhar... sem pensar muito...gosto. Não é música nem dansa.. é outra gente. Outros mundos aqui tão perto...


Susana JORGE

Anónimo disse...

Dança e não dansa..claro.
Seja qual for o valor "artístico" deste
grupo, este post tem a vantagem de nos
relembrar (de forma enviesada) um boca-
do
trágico da história
recente da Europa..que a Europa deseja
ardentemente esquecer. Aqui está um
mote de discussão. O belíssimo filme
" A vida secreta das palavras" fala,
entre muitas outras coisas,da vergonha
de se sobreviver depois da violação,da
tortura,da morte em vida.Como foi pos-
sível voltar a acontecer...mesmo aqui
ao lado...o horror? Como é possível já
quase ninguém falar disso?

Susana Jorge

José Manuel disse...

Engraçado mas mesmo para o gosto balcânico é o equivalete ao nosso pimba. Gostei das mini-saias das meninas :-)

Experimenta antes Taraf Haidouks que é um produto genuínamente balcânico. Apesar de ao início parecer uma cacofonia desafinada acabamos por perceber que ali existe uma melodia e um sentido. Sob a aparência do caos existe uma ordem que se oculta ao ouvido desprevenido.

ver aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=ENvPuAA5odI

José Manuel disse...

Esta também é muito gira, a partir duma peça de Bela Bartok

http://www.youtube.com/watch?v=japGwFK7a7k

Vitor Oliveira Jorge disse...

Agradeço todas as sugestões... e felizmente também o comentário feito por alguém à postagem anterior... que contém um poema em francês... coisa que não é lá muito fácil para mim, nos tempos que correm, em que tendemos a falar mal e a escrever mal em várias línguas... Isto não implica juízo sobre o valor do dito texto, como é óbvio...