sexta-feira, 22 de junho de 2007

24 horas surrealistas

Foram as minhas últimas 24 horas.
Estou agora em recuperação, após ter-me deitado às três da manhã e levantado às oito, em 24 horas durante as quais me aconteceram várias coisas inverosímeis, felizmente já superadas.
Duas delas consistiram em rever as provas de dois novos livros de poesia, em ambiente mental pouco propício: "Pedras Preciosas", que vai sair em Julho (e apresentado em Foz Côa) e "Novo Florilégio" (que sairá em Setembro), o primeiro publicado pela Papiro, o segundo pela Afrontamento, ambas editoras do Porto.
Convalescente, retomo este vício do blog em vésperas de S. João, de milhares de coisas para fazer, e do início de escavações em Foz Côa em 1 de Julho. Por isso por um mês este blog ficará, ou mudo, ou muito titubeante... excesso de carga!
A surrealidade da vida era uma vez invocada pelo saudoso David Mourão Ferreira num texto de jornal em que descrevia a sensação de um grupo de escritores portugueses que ia a viajar para o Brasil, e de repente o avião começou a perder altitude de forma bastante rápida, tão rápida que os passageiros foram vendo, em segundos de pânico, o mar aproximar-se de forma bastante súbita, a ponto de terem pensado que a coisa era já mesmo séria... quando, no último minuto, ou segundo, não sei, o experimentado piloto da TAP conseguiu voltar a erguer o avião e a continuar a rota, vencendo aquele "poço de ar".
A realidade está cheia de "poços de ar", e Portugal em particular. Cada vez mais. Estamos num dos mais surrealistas países do mundo, embora todo o mundo esteja cada dia mais surreal. Para ter sensações fortes, é só viver, como um cidadão normal. Eu sinto-me a sair de um poço desses, hoje. Meu rico S. João. Já podem ver como um alfacinha virou tripeiro... pas mal, non?

7 comentários:

Anónimo disse...

mas afinal o que aconteceu? voce esteve doente? do corpo? da cabeça ou do coraçao?

Helena

Vitor Oliveira Jorge disse...

Não. Estou doente de Portugal.Mas também sei que lá fora as pandemias de todo o tipo alastram.
Doente de Portugal - eis uma fórmula boa.Creio.

Anónimo disse...

muito poético...

Vitor Oliveira Jorge disse...

ou patético? Não sei.

Anónimo disse...

muito cruel...
prefiro poético!!!! poeta!!!!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Vivemos numa sociedade (refiro-me ao mundo contemporâneo em geral) de uma crueldade extrema - um fascismo moderno. O fascismo tem isto de terrível: arrasta consigo muito boa gente, que é sua fiel servidora, porque as pessoas têm uma necessidade muito grande de corresponder ao que delas a comunidade espera.Só que o fascismo transforma a comunidade em horda: é a sobrevivência, o cumprimento estrito, a pontualidade, o ideal de sucesso e de eficácia, a impor-se a tudo, a toda a humanidade, a todos os valores, a toda a com-paixão (capacidade de ter paixão, interesse, pelo problema do outro, tempo para o outro). O séc. XX foi o dos fascismos brutais. O séc. XXI está a ser, e será cada vez mais, o dos fascismos soft. Como já no séc. anterior fui vítima da primeira versão, estou muito contente por ir já fazer 60 anos em Janeiro: este século, por muito que me queira chatear, já não tem muito tempo...um dia o corpo cansa-se, e uma pessoa-a passa-se, acaba.Deus queira que caia de súbito. Chato é para os que ficam cá para nos enterrar e tratar da papelada. Porque a burocracia continua - essa é sagrada.

Anónimo disse...

se o mundo é cruel nao justifica sermos crueis tambem... entao a autocrueldade? nem pensar... nao compensa (de com pensar?)

que seus 60 anos de dias de sol nao se maculem com as noites de nuvens e trovoadas... alguem ja disse que depois da tempestade...