quarta-feira, 20 de junho de 2007

Contributo do Prof. Jorge Gaspar para o problema do novo aeroporto. seg. artigo do Público

Permito-me transcrever de: http://www.apgeo.pt/

Artigo do Público por Paulo Miguel Madeira: Jorge Gaspar critica condução do processo da localização do Aeroporto: "O aeroporto em Alcochete é pior para o desenvolvimento do país"

2007-06-12

"Jorge Gaspar, perito em ordenamento diz que aeroporto em Alcochete é pior para o desenvolvimento do país.
Um menor efeito positivo sobre o tecido socioeconómico ao nível nacional e um mais difícil acesso ferroviário serão os principais inconvenientes de uma eventual opção pela localização do novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, segundo o geógrafo Jorge Gaspar, que coordenou a equipa técnica do Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT), enviado há meses pelo Governo para aprovação pela Assembleia da República.
Este geógrafo, professor catedrático aposentado e actualmente consultor, considera mesmo que "todo o processo é vergonhoso", pois "nunca foi feito um estudo de custos/benefícios para a Ota". Questiona mesmo quem é que introduziu a Ota no processo de decisão: "Quem o fez devia vir justificar porque é que o fez."
A Ota foi a opção consagrada no PNPOT para o novo aeroporto por lhe ter sido fornecida como um dado, decorrente da escolha de João Cravinho, quando era ministro do Planeamento de António Guterres. E os estudos de exploração da viabilidade da Ota levaram Jorge Gaspar a concluir que se tratava da localização que servia melhor os interesses do país do ponto de vista do ordenamento do território, pois é a que "melhor se integra" no sistema nacional de acessibilidades e "a melhor para potenciar" o desenvolvimento nacional.
As objecções técnicas à localização na Ota, como a de não se poder tirar pleno partido das duas pistas devido à orografia, não foram apreciadas na altura. Mas Jorge Gaspar lembra que muitos aeroportos por todo o mundo têm problemas de orografia e considera que as cheias são também resolúveis sem grande dificuldade – dá mesmo o exemplo de Barcelona, cujo aeroporto está sobre o pequeno delta de um rio de 170 quilómetros que nasce nos Pirenéus e é da ordem de grandeza do Cávado.
As grandes dúvidas que considera existir ainda em relação à Ota é a da relação custos/benefícios, que nunca foi estudada, bem como a possibilidade de expansão – que diz ser possível mas comportar custos mais elevados do que as outras opções.
Por outro lado, a localização na Ota serve "muito bem" a área metropolitana de Lisboa, mesmo "melhor do que Alcochete" (mais exactamente, Canha, no extremo leste do Campo de Tiro, já nos concelhos de Benavente e Montijo), e serve de "grande alavanca" para as áreas que "têm maior potencial de crescimento no país", que Gaspar diz serem as do Oeste, Centro Litoral e Lezíria e Médio Tejo. Acrescenta ainda que o crescimento desta área é importante para reforçar a competitividade das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
A ideia é ajudar as cidades médias do centro do país a funcionar como uma área metropolitana polinucleada, considerando que Leiria, Coimbra ou Aveiro têm cerca de 250 mil habitantes contando as pessoas a menos de 15 minutos destes centros. Com um PIB em cerca de 70 por cento da média da UE, "facilmente podem ir para os 80 por cento a 90 por cento".

Dúvidas sobre dados de acessibilidades a Alcochete

Na localização agora proposta pelo estudo promovido pela CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), há ainda que considerar a desvantagem do maior número de quilómetros por carro que terão de ser feitos por muitos utilizadores e ainda "a quase inacessibilidade ferroviária".
Quanto a este último aspecto, explica que "ou o TGV Porto-Lisboa vai primeiro a Canha e só depois entra em Lisboa, ou então quem vier do Centro tem de ir primeiro a Lisboa e depois noutro comboio até Canha".
Um aspecto que Jorge Gaspar considera é importante, se a hipótese de Canha avançar, é que esta freguesia do Montijo (mas que não tem contiguidade territorial com este concelho) saia da área metropolitana e, devido às suas históricas relações funcionais com Vendas Novas, integre este concelho e a região do Alentejo, passando a ter assim acesso a mais fundos comunitários.
O estudo promovido pela CIP é elogiado pelo geógrafo no que respeita ao capítulo ambiental, mas "o capítulo sobre acessibilidades levanta muitas dúvidas por falta de informação".
Começa por apontar um erro no que respeita à distância entre a Ota e a Gare do Oriente (em Lisboa) em linha recta: na página 19 deste estudo estão 45 quilómetros, mas são 36 quilómetros.
Critica também que não seja apresentada uma matriz de distâncias, "indispensável para perceber a origem/destino" dos utilizadores. E aponta também o dedo a que a atracção de utilizadores do aeroporto é ponderada apenas pela capacidade económica da população, faltando outras variáveis, como o nível de instrução.
Outro aspecto que lhe levanta dúvidas é se os 650 mil habitantes da região de Badajoz (a quase uma hora de distância por TGV) não estão a entrar neste estudo com um peso maior do que o do conjunto do Oeste-Lezíria-Coimbra. Aliás, alguns dos mapas apresentados mostram uma maior influência do aeroporto em Alcochete do que na Ota sobre toda a província da Extremadura espanhola.

Devem ser consideradas outras opções

Jorge Gaspar defende ainda que agora a situação é radicalmente nova, pois os estudos da Naer (a empresa que tem a seu cargo o processo do novo aeroporto) não consideraram o Campo de Tiro de Alcochete porque ele sempre foi visto como uma restrição.
Quanto aos interesses que diz que terão promovido agora a opção de Alcochete, diz que serão legítimos, como todos os outros, mas acha que se é para considerar novas opções por uma questão de custos, então há que olhar para outras localizações viáveis no eixo do Tejo, mesmo em terrenos do Estado.
Dá o exemplo da companhia das Lezírias, que tem 25 mil hectares, dos quais "muitos não têm interesse ecológico e reduzido interesse agrícola". E também da lezíria do Tejo na margem direita, entre Vila Nova da Rainha (onde houve uma das primeiras bases aéreas do país) e a estação do Cartaxo, entre a Linha do Norte e o Tejo, próximo do ramal ferroviário de Setil, que dá acesso ao Sul do país. "

5 comentários:

Anónimo disse...

o que está em jogo não é o interesse nacional mas lutas partidárias e braços de ferro pessoais. Portanto não vale a pena a racionalidade em terreno minado por paixões...

Vitor Oliveira Jorge disse...

Claro...mas isso é em tudo! E podemos demitir-nos de pensar? Não há tempo para estudar tantos dossiers e esta sociedade "da informação e do conhecimento" serve-se disso para nos manipular, colectiva e individualmente.
O "interesse nacional" é um recurso retórico, claro, para cada partido e cada indivíduo tentar fazer o que quer, suportado por um poder "sobrenatural" que supostamente o ultrapassa...mas mesmo dentro deste relativismo, há que evitar extremos e ficar calado parece mal. Há mulheres e homens a serem apedrejados por supostos crimes cometidos em certos países do mundo, há a degradação generalizada do ambiente, há o negócio de armas, pessoas, órgãos, tudo... e uma pessoa não consegue ficar indiferente.
Também não acredito na racionalidade em si... mas sim tenho uma ideia simples sobre isto. É que a questão do aeroporto e do TGV são fundamentais para a existência do nosso país e das nossas pessoas. Vamos só assistir ao espectáculo?

José Manuel disse...

"serve de "grande alavanca" para as áreas que "têm maior potencial de crescimento no país", que Gaspar diz serem as do Oeste, Centro Litoral e Lezíria e Médio Tejo. Acrescenta ainda que o crescimento desta área é importante para reforçar a competitividade das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto." Jorge Gaspar dixit

Ou seja a OTA é mais um instrumento para reforçar a litoralização do país, ao mesmo tempo que o discurso oficial fala diminuir a pressão sobre o litoral e desenvolver o interior. Contradições...

Ao contrário do que diz Jorge Gaspar a região mais prejudicada pela OTA é o Porto. Desde logo porque para rentabilizar a sua utilização será necessário concentrar aí os voos internacionais que agora demandam Pedras Rubras. E a prazo deixará de ser compensador utilizar os voos domésticos Porto - Ota, em vez de Porto-Lisboa. Ao perder as funcionalidades do aeroporto de Pedras Rubras é mais uma machadada na região do Porto.

José Manuel disse...

Há outra tese sobre a Ota e o TGV: são apenas engodos para manter os opinadores televisivos e as oposições entretidas.

Anónimo disse...

totalmente de acordo com josé manuel!!!! Toda a gente sabe que o porto fica a perder com a ota, para além da sua segurança ser precária de acordo com os os técnicos da aviação civil. A racionalidade é incómoda quando defendemos pontos de vista partidários, que não puramente científicos ou técnicos. É quando os académicos fazem as piores figuras argumentando ao arrepio da dita racionalidade!