terça-feira, 26 de junho de 2007

conjugal




tempo e espaço:
dentro dos quartos.


a cama posta; as almofadas disponíveis;
as pernas torneadas do banco, à frente,
sobre o qual os corpos
se hão-de vestir e despir.


a perfeita simetria deste altar.

as grandes velas sobre as mesas
de cabeceira, a projectarem para cima
os clarões,
os desígnios da conjugalidade.


as coisas indispensáveis.
o telefone pousado,

o cinzeiro, o jarro, as pernas verticais
da mesinha.

os eixos que rompem do tecto
e mostram o poder da arquitectura;
a velocidade com que a alcatifa
atinge todos os rodapés.

tudo ajustado, até o azul do estofo
a conjugar com o azul do anexo
de onde a nudez há-de sair
ainda cheia de gotas


para pôr o pijama brilhante.

conjugar:
prender no mesmo jugo;

unir; ligar conjuntamente;
para o mesmo fim.

conjugicida:
o que assassina
o seu cônjuge.


conjugir:
ligar intimamente.


tudo no dicionário,
ou na bíblia sagrada
dentro da gaveta.

o rebuçado para antes
de dormir;

o banho quente para depois
do amor;
a colónia
para descer ao salão.

o conforto.
modo de usar.


o casal vem já.


entretanto, deixa continuar
tudo como está aqui,
na sua perfeição.





voj 2007

Foto: Raymond en Saskia
(rep. aut.)
Fonte: http://raym.deds.nl/indexeng.html

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