Fonte: http://www.jfphotography.net/
Reprodução autorizada pelo autor
uma força qualquer nova, de uma cor como o verde, pode chegar na primavera e estender-se pelo verão, encaracolando-se por todo o lado, preenchendo os interstícios.
é para isso sobretudo que serve: a natureza tem horror ao vácuo, gera as suas próprias formas de auto-confirmação.
a obra humana é, aqui, tão só um sustentáculo: os muros por onde o musgo desliza, as pedras que se deixam impregnar de humidade, as folhas que trepam os degraus do tempo com lentidão de répteis, os líquenes que polvilham blocos há muitos anos talhados por mãos que neles se feriram.
não adianta abrir portas, ou esticar redes: esta força entra pelos casarões, agita as cortinas brancas, provoca risinhos nos criados, entorta ligeiramente os napperons.
o verde tem, de facto, muitos tons; o verde são afinal muitas cores: e possui uma grande capacidade de expansão, de alastramento, a ponto das narinas ficarem extasiadas com o seu cheiro de iodo, de clorofila fria, e de o espírito poder sorvê-lo numa espécie de compulsão imparável e quase mortífera.
o verde é uma cor nua, tão exposta e indecente como uma folha de planta: é uma nervura, é um frisson, aberto ao ar, com tendência à erecção. e esta última, sim, é decisiva como eixo central do verão: porque é na sua ponta que as estações se erguem nos solstícios e nos equinócios, entre linhas em que só antigos cartógrafos se orientam.
o verde é a cor do sol, do sol que brota do jade: por isso já os antigos o honravam, e o juntavam ao sangue coagulado dos sacrificados, para manterem o mundo.
o verde é a cor do teu regresso, da tua juventude, quando passados tantos anos vens ao meu lar e me dizes: sabes, eu sempre gostei de ti. como se nunca tivesses aqui habitado, como se essas palavras fizessem falta para preencher qualquer coisa ainda.
para se poder entrar com júbilo pelo verão dentro, no suave ondular das cortinas, na ferida do pé logo chupada para evitar a mistura das cores, na extrema doçura da pele, na reconciliação preguiçosa com o tempo.
é para isso sobretudo que serve: a natureza tem horror ao vácuo, gera as suas próprias formas de auto-confirmação.
a obra humana é, aqui, tão só um sustentáculo: os muros por onde o musgo desliza, as pedras que se deixam impregnar de humidade, as folhas que trepam os degraus do tempo com lentidão de répteis, os líquenes que polvilham blocos há muitos anos talhados por mãos que neles se feriram.
não adianta abrir portas, ou esticar redes: esta força entra pelos casarões, agita as cortinas brancas, provoca risinhos nos criados, entorta ligeiramente os napperons.
o verde tem, de facto, muitos tons; o verde são afinal muitas cores: e possui uma grande capacidade de expansão, de alastramento, a ponto das narinas ficarem extasiadas com o seu cheiro de iodo, de clorofila fria, e de o espírito poder sorvê-lo numa espécie de compulsão imparável e quase mortífera.
o verde é uma cor nua, tão exposta e indecente como uma folha de planta: é uma nervura, é um frisson, aberto ao ar, com tendência à erecção. e esta última, sim, é decisiva como eixo central do verão: porque é na sua ponta que as estações se erguem nos solstícios e nos equinócios, entre linhas em que só antigos cartógrafos se orientam.
o verde é a cor do sol, do sol que brota do jade: por isso já os antigos o honravam, e o juntavam ao sangue coagulado dos sacrificados, para manterem o mundo.
o verde é a cor do teu regresso, da tua juventude, quando passados tantos anos vens ao meu lar e me dizes: sabes, eu sempre gostei de ti. como se nunca tivesses aqui habitado, como se essas palavras fizessem falta para preencher qualquer coisa ainda.
para se poder entrar com júbilo pelo verão dentro, no suave ondular das cortinas, na ferida do pé logo chupada para evitar a mistura das cores, na extrema doçura da pele, na reconciliação preguiçosa com o tempo.
para s.
voj 2007
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