domingo, 13 de maio de 2007

que é um corpo?


não sei.
apenas vejo efeitos de luz:
eles criam linhas, e volumes, e ritmos.

uma imagem.


mas mesmo que essa imagem correspondesse a um
corpo;

e mesmo que esse corpo se virasse na nossa direcção
e pudéssemos descortinar um rosto,

que novas perguntas surgiriam?


por outras palavras:

como é possível conviver com o radical nada,
tanto de uma fotografia
como de toda a realidade que nos cerca,

povoada de aparências,
constituída de fantasias?

talvez uma pessoa só exista mesmo

quando dá o primeiro grito
ao vir ao mundo,

e o outro, o último, ao sair dele.


no intervalo, vive no enigma,

a escrever textos inócuos,

a olhar para a terrível presença
não se sabe bem de quê.


a presença que se ausentou?
mas para onde, como?

talvez a mesma luz que nos traz
a imagem
de um ser humano vivo
seja a que nos trará a do seu cadáver:

pode ser que esteja aí
um princípio
de inteligibilidade.


o que acham?

por mim, já não sei:

o que julguei querer ver, virou-se;

e estou cansado de esperar,
de interpelar fantasmas,

preciso talvez de uma palavra de outrem;
de um gesto humano
que inicie qualquer coisa;

um braço que me arraste violentamente
para fora deste quarto.

voj 2007

Foto: copyright Joris Van Daele - http://www.barenakedgallery.
com/home.htm
=Reprodução expressamente autorizada pelo autor=