terça-feira, 8 de maio de 2007

Homem e mulher


Foi educado nesta polaridade, como todas as pessoas da minha geração. Sei hoje perfeitamente o que é a "construção social" da masculinidade e da feminilidade, e até julgo saber por que é que todas essas velhas polaridades estão ultrapassadas - e o sistema permite (interessa-lhe, de certo modo) que estejam ultrapassadas. É evidente que as pessoas são pessoas, antes de mais, cada uma na sua especificidade. Ao processo de individuação, que corresponde à consciência que cada um tem dessa especificidade e da sua radical solidão perante a morte (ou seja, perante a fantasia que é o motor da própria vida, porque se não fôssemos mortais não tínhamos desejo, éramos amorfos) juntou-se um processo de individualismo levado ao extremo pelo neo-liberalismo contemporâneo. Entretanto ninguém quer etiquetas: homossexual, heterossexual, gay, lésbica, queer, trans-sexual - que é isso? Pessoas são pessoas.
Homem e mulher, amor romântico, e todas essas coisas: mitos que me criaram (e a muitos da minha geração) e que, apesar de tudo, muitos ainda perseguem... mas entretanto nas combinatórias e variantes que, quando era novo, mal podia adivinhar.
Estava empapado de literatura romântica e de ingenuidade. Não podia adivinhar as travessuras que se escondem por trás da imagem pública de cada ser...
Hoje continuo de "esquerda" (pelo menos o meu desejo volta-se para aí), confesso que o ser feminino é aquele que desde sempre me inspira (estou nesse aspecto em regime de exclusividade e tempo integral, como no meu emprego universitário), adoro não ter tido filhos, acho fantástica a emancipação da mulher e todas as emancipações (libertações de estados de constrangimento e de opressão) e olho para cada um dos outros, para o seu segredo, com o mesmo espanto com que olho para mim. Vício de antropólogo que de certo modo também serei?...

Disse algo de politicamente (in)correcto?
Saí-me bem? Vejam lá se têm alguma coisa por onde me pegar...
Citando a Amália: obrigado, obrigado, obrigado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho que sim. Mas não era de facto esse o seu desejo ?

Vitor Oliveira Jorge disse...

Esse, qual?